Economia

Homem forte do governo, Rui Costa (também) bate no presidente do Banco Central

O chefe da Casa Civil, avisa que críticas vão continuar, se o BC não sinalizar alívio na taxa de juros na reunião de hoje do Copom

O ministro da Casa Civil, Rui Costa. Foto: Evaristo Sá/AFP
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O baiano Rui Costa, de 60 anos, não quer ser chamado de “ministro-chefe” da Casa Civil, apenas de “ministro”. Até mandou retirar qualquer plaquinha que fale em “ministro-chefe” ali no seu pedaço. Economista de formação e homem forte do governo Lula, ele bate sem dó em um “chefe” de poder em Brasília. Sim, porque a lei de autonomia do Banco Central fez do BC uma espécie de poder paralelo, totalmente livre para decidir sobre o tamanho da taxa básica de juros no Brasil, a Selic.

“O que o presidente do Banco Central está fazendo é um desserviço ao Brasil”, disse Costa em café da manhã com jornalistas nesta quarta-feira 22, do qual CartaCapital participou. Era um comentário sobre a Selic. A taxa está em 13,75% desde agosto, uma das maiores do mundo. 

Quando o BC calibrou-a nesse nível, observou Costa, a inflação era de cerca de 10% em 12 meses. Agora vai pela metade, mas o juro segue igual. A justificativa teórica para o Banco Central subir o juros e mantê-los altos é segurar a inflação. O outro lado da moeda é que juro alto é um desestímulo a investimentos na economia real – que fariam o PIB crescer mais, gerar mais empregos e melhores salários. “A economia está sendo asfixiada [pelo BC]”, afirmou o ministro.

Desde ontem a diretoria do BC faz sua reunião periódica do Comitê de Política Monetária, o Copom, para discutir as projeções de inflação e qual seria a Selic necessária para controlar os preços. Ao concluir a reunião nesta quarta-feira, possivelmente à noite, anunciará se muda ou altera o juro. 

É grande a pressão do governo, a começar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que haja algum sinal de alívio, quem sabe um corte na taxa. E se não houver? “A reação do governo vai ser continuar criticando e questionando o presidente do Banco Central”, afirmou Costa. 

Antes de assumir o BC no governo Bolsonaro, Campos Neto era funcionário de banco. Trabalhava para o Santander. Uma instituição que é, como qualquer outra do sistema financeiro, fiscalizada pelo BC. “Isso não é natural, gente, não está correto”, diz o Costa, que defende contenções à chamada ‘porta-giratória’ (quando alguém que transita entre cargos públicos e privados).

Costa despontou, juntamente com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como uma voz mais, digamos, desenvolvimentista a soprar nos ouvidos de Lula. Um papel que de certa forma o empurra para atritos com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o qual, por dever de ofício, tem sido mais ortodoxo, mais amigável com Campos Neto e o BC.

O curioso, anota Costa, é que a turma do “mercado” pode opinar livremente sobre qualquer aspecto da política econômica. Já um membro do governo ou do partido do presidente, não. “A opinião do ‘mercado’ ninguém questiona”, disse.

Segundo o ministro da Casa Civil, não há conflito entre ele e Haddad (nem entre Gleisi e Haddad), mas uma diferença de onde cada um está no tabuleiro político e governamental. Costa, por ser uma espécie de gerente do governo, tem um olhar mais global do que o timoneiro da economia. 

A proposta da Fazenda para controlar os gastos e reduzir o déficit público no governo Lula tem sido apontada na mídia como motivo de divergências entre Costa e Haddad. O ministro da Casa Civil diz que a proposta tem escrutinada por vários atores, (Haddad já falou dela com políticos, com outros membros do governo), a pedido de Lula, para que fique redonda, antes do envio ao Congresso.

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