Um documento enviado pelo Ministério da Saúde à CPI da Covid no Senado Federal mostra que o governo federal sabia desde janeiro que a AstraZeneca não usava empresas intermediárias em negociações. A pasta foi informada pela própria farmacêutica. A informação é do G1.
Mesmo assim, o ministério recebeu pelo menos dois intermediários para negociar imunizantes da empresa.
O documento mostra um e-mail encaminhado por uma diretora da farmacêutica no dia 29 de janeiro à Secretaria-Executiva da Saúde, ocupada na ocasião por Elcio Franco. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, também recebeu a mensagem.
“Toda a produção da vacina AZD 1222 durante o período da pandemia é destinado exclusivamente a governos e organizações internacionais de saúde ao redor do mundo, ou seja, não há possibilidade de comercialização da vacina produzida pela AstraZeneca no mercado privado”, afirmava o e-mail.
A mensagem foi motivada por uma suposta intermediária de Vila Velha, no Espírito Santo, oferecer doses ao governo brasileiro. Um mês depois, porém, integrantes do Ministério da Saúde e o próprio presidente da República Jair Bolsonaro teriam negociado com outros intermediários. As negociações, além de injustificadas, também são alvo de suspeitas por envolverem pedidos de propina e outras irregularidades.
A primeira negociação suspeita envolve o reverendo Amilton de Paula, que recebeu aval do governo para negociar 400 milhões de doses com a empresa intermediária Davati em meados de fevereiro. A própria empresa reconhece que não tinha as vacinas oferecidas na ocasião.
Também em fevereiro, a Davati ofereceu doses ao governo usando outro representante, o policial militar Luiz Dominguetti. O vendedor teria recebido uma proposta de propina de 1 dólar por dose vinda de Roberto Ferreira Dias, diretor da Saúde, como condição para seguir a negociação com o governo.
Nos episódios, há suspeitas de participação direta de Bolsonaro na negociação. Mensagens encontradas no celular de Dominguetti indicam conversas diretas e fora da agenda entre o presidente e o reverendo Amilton para tratar dos imunizantes. A primeira-dama Michelle Bolsonaro também teria intermediado as negociações do líder religioso com o governo brasileiro.
O Ministério da Saúde foi procurado, mas não respondeu à reportagem.
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