Justiça
Governo Lula é pego ‘totalmente de surpresa’ com decisão de Hugo Motta de pautar o PL da dosimetria
A votação da ‘anistia light’ está prevista para esta terça-feira e pode beneficiar Jair Bolsonaro
O anúncio feito pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de que a Casa vai votar o PL da Dosimetria nesta terça-feira 9 pegou totalmente de surpresa o governo Lula (PT). Interlocutores próximos do presidente da República dizem que ninguém no Palácio do Planalto sabia deste movimento de Motta e mesmo na reunião de líderes, realizada nesta manhã na Câmara, o clima foi de espanto.
A surpresa está no fato de que na noite de segunda-feira 8, Motta se reuniu com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), na Residência Oficial, e não tratou do tema. Na pauta estavam assuntos exclusivamente econômicos, como a provável votação do PL 125/2022, que pune o chamado devedor contumaz.
Motta não antecipou ao governo que viria a pautar a “anistia light” no dia seguinte. O gesto, em Brasília, foi lido como um aceno à oposição bolsonarista. A avaliação é do líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ). Em conversa com jornalistas, o parlamentar disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro já teria lido o projeto de Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do PL da Dosimetria, e que avalizou a votação.
Há, portanto, um acordo entre a oposição bolsonarista e o Centrão para levar o texto adiante, mesmo com o relatório tendo sido apresentado horas antes da Ordem do Dia na Câmara dos Deputados.
No domingo 7, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que tinha um “preço” para desistir da pré-candidatura à presidência da República: Jair Bolsonaro “livre e nas urnas”.
Caso o projeto avance, a pena de 27 anos e três meses de prisão de Bolsonaro poderia ser reduzida para apenas dois anos e quatro meses de regime fechado pelos crimes contra a democracia. Ele seguiria inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Mesmo com a provável aprovação da redução das penas aos golpistas na Câmara, Sóstenes disse que este é apenas o “primeiro degrau”. “Nossa luta segue por aquilo que sempre defendemos: anistia é anistia. Sem adjetivos, sem meios-termos. Nenhum brasileiro será deixado para trás. A verdade vai prevalecer e nós não recuaremos”, escreveu no X.
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