Funcionários de uma empresa ligada à VTCLog encaminharam na terça-feira 7 uma carta anônima aos senadores da CPI da Covid em que pedem uma ‘investigação mais profunda’ nos negócios do grupo.
As suspeitas são de tráfico de influências e uso de empresas fantasmas em negócios com o governo federal. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.
“A CPI precisa aprofundar não somente na VTCLog, mas em todo o grupo Voetur”, pedem os funcionários. “Três das dez empresas do grupo podem ser empresas fantasmas. A maioria tem como principal fonte de renda o setor público”, acrescentam os denunciantes.
Segundo apontam, a Vip Service Club Marina, VTI Inovação e Logística e a Voetur Consolidadora seriam as empresas de fachada usadas pelo grupo investigado pela CPI.
No texto aos senadores, há ainda suspeitas de tráfico de influências e uma suposta ligação dos donos da empresa com o vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo apontam, Elizabeth Cassaro, amiga íntima do dono Carlos Alberto de Sá e gestora da Voetur Eventos, esteve com o general e atuou para obter vantagens para o grupo em uma licitação.
“Recentemente a empresa ficou em sexto lugar na disputa para licitação do Itamaraty (não sabemos apontar especificamente qual) e desclassificaram as demais concorrentes, priorizando e privilegiando a Eventos. […] Bastou uma ligação da Elizabeth para o responsável do Itamaraty e ele então conseguiu colocar a empresa de volta”, denunciam os funcionários.
Os funcionários alegam que toda a alta cúpula da empresa ‘possui contatos’ e atuam sempre de modo a obter vantagens nos contratos.
“Todos no âmbito corporativo reconhecem a influência do Carlos Alberto em esferas importantes da sociedade, o que proporciona facilitações em processos para a VTC. Foi na entrega das vacinas da Covid que houve também um boato interno de que a Drª Andreia [Lima] poderia conseguir vacinas para a diretoria”, destacam na carta.
A VTCLog é suspeita de integrar um grande esquema de propina e corrupção no Ministério da Saúde desde 2018, quando assumiu toda a logística de medicamentos e vacinas da pasta. O setor era coordenado por um órgão público, mas foi substituído pela empresa pelo então ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo na Câmara dos Deputados. Neste período, a empresa superou os 257 milhões em contratos, destes, apenas 4 milhões foram feitos com licitação.
Mesmo com a saída de Barros da pasta, a empresa seguiu fechando negócios. Na gestão de Jair Bolsonaro, a VTCLog operou um contrato de 21,9 milhões de reais em 2019, renovado com um valor menor em 2020, 16,5 milhões de reais.
A empresa ainda possui ligações com Roberto Ferreira Dias, apontado como articulador da propina na compra de vacinas. Suspeita-se de que ela tenha pago boletos do ex-diretor de logística do ministério que somam mais de 40 mil reais.
O depoimento de Zenaide Sá Reis, responsável pelo setor financeiro, já foi convocado e deve ocorrer na CPI na próxima semana. A gestora também teve os sigilos quebrados pela comissão de inquérito.
O grupo Voetur afirmou que desconhece o teor da carta e que ‘rechaça veementemente o seu conteúdo leviano’. Disse ainda que buscará ‘as medidas judiciais cabíveis contra todas as falácias apontadas’. A vice-Presidência optou por não se manifestar.
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