Política
Em frente à sede da PF em Curitiba, lulistas vão da euforia à decepção
A decisão de Dias Toffoli que derrubou a liminar do colega Marco Aurélio de Mello provocou raiva e frustração
Após 257 dias de prisão, cerca de 350 pessoas se aglomeraram no portão de acesso à Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, na expectativa pela saída de Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira 19. Esperavam a ordem que não veio, o alvará de libertação do ex-presidente. Em um intervalo de poucas horas, a liminar do ministro do STF Marco Aurélio Mello deu lugar às suspensão da liminar do ministro Dias Toffoli, e tudo voltou ao lugar que estava antes.
“Estava aqui na noite de 7 de abril, quando Lula foi preso. Agora quero vê-lo livre para caminhar pelas ruas outra vez” afirmou o contador Raul Carlos Chiroski, antes da chegada da decisão de Toffoli, que se deu por volta das 20h. As ruas que circundam a PF há tempos não estavam tomadas por carros estacionados e bandeiras vermelhas sendo agitadas. Até os vendedores ambulantes voltaram a circular pelo local.
A notícia que o ministro Marco Aurélio Mello havia determinado a soltura dos presos que tiveram a condenação confirmada em segunda instância transformou a Vigília Lula Livre. “É verdade, moço?”, perguntava a dona-de-casa Marilda de Souza Lima, que saiu de sua residência assim que ouviu a notícia no rádio. Trouxe a filha de sete anos a reboque. “Meu marido está desempregado há quase quatro anos. Vive de fazer trabalhos avulso, de bico. Ele é metalúrgico e no tempo do Lula a vida era muito melhor para os pobres”, lamentou.
Durante toda a tarde, as informações que chegavam eram contraditórias. Embora a maioria acreditasse que a decisão de Mello seria cumprida, havia sempre a lembrança do fatídico domingo de 8 de julho, quando o desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal 4, de Porto Alegre, expediu uma liminar que autoriza Lula ser solto e não foi cumprida. As informações eram que a juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara Criminal Federal, iria aguardar a publicação da decisão no Diário de Justiça Eletrônica, além de outras medidas judiciais para decidir sobre a soltura do ex-presidente.
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Fernando Lopez, microempresário, “não filiado ao PT”, estava cauteloso. “Nosso sistema de justiça não pode ser levado a sério nos dias atuais, mas tenho esperança que haja, hoje, o mínimo de justiça após tanta injustiça cometida contra o presidente Lula”.
O ambiente começou a ficar tenso quando cerca de trinta apoiadores do ex-capitão Jair Bolsonaro chegaram ao local com gritos de ofensas a Lula e aos militantes do PT. Um deles trazia um cartaz com a imagem da capa da carteira do trabalho, acusando que os que ali se encontravam eram “vagabundos”. Outro mostrava um cartaz onde se lia “STF – Uma Vergonha”. A segurança era feita por apenas um carro da Polícia Militar que não chegou a interceder. Os próprios militantes petistas formaram um cordão de isolamento para dividir as pessoas.
Chegou a haver bate-boca entre as partes que quase chegaram as vias de fato. Por volta das 19 horas, o ato do “Boa noite presidente Lula”, que se repete todos os dias desde sua prisão na sede da PF, foi entoado por todas as vozes. A expectativa, neste momento, era que o ex-presidente não seria solto nesta noite. Pelos celulares, as notícias chegavam a cada instante. “Não vamos desistir jamais. Vamos permanecer aqui na Vigília para lutar pela liberdade do nosso presidente” anunciava o estudante Paulo Roberto Aquino.
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Já eram quase 20 horas quando foi anunciada decisão do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, suspendendo a decisão do seu colega de toga, Marco Aurélio Mello. Lula continua preso. Os militantes pró-Lula gritavam palavras de ordem, enquanto a poucos metros os adeptos do ex-capitão aplaudiam a decisão. “Nada vai me esmorecer. Vou estar todos os dias aqui na Vigília para apoiar Lula. Neste Natal, a minha ceia será aqui, ao lado dele”, afirmava a auxiliar de enfermagem Magda Costa Ribeiro. “Eu ainda quero ver Lula voltar à presidência” afirmou, com lágrimas nos olhos.
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