Política
‘Excesso de espaço’: Jornalista é acusada de machismo após criticar atuação de Janja
A futura primeira-dama foi defendida por apoiadores, políticos e celebridades; assista a declaração da jornalista e as reações nas redes sociais
Eliane Cantanhêde, analista política do canal GloboNews e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, foi acusada de machismo após dizer que a futura-primeira dama, Rosângela Silva, a Janja, “vem ocupando um excesso de espaço”.
A declaração aconteceu na última sexta-feira 11, no programa Em Pauta, da GloboNews. Na ocasião, a jornalista questionava por que Janja estava sentada ao lado de Lula, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante encontro com aliados, no CCBB, em Brasília.
“Ela estava ali sentada, mas ela não é presidente do PT, ela não é líder política, ela não é presidente de partido, enfim, por que ela estava ali? Qual era o papel da primeira-dama?”, questionou.
Ao seguir comentando sobre um papel usual de uma primeira-dama, Eliane Cantanhêde citou que Ruth Cardoso (1930-2008), mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, era um bom exemplo de primeira-dama, pois apesar de ter “brilho próprio”, ela “não tinha protagonismo” nas tomadas de decisão política.
“Como a Janja, [Ruth] tinha o brilho próprio. Era professora universitária. Uma mulher super respeitada na área dela e cuidado da comunidade solidária, mas ela não tinha protagonismo, ela não tinha voz nas decisões políticas“, afirmou.
“Se tinha, era a 4 chaves dentro do quarto do casal. Ou seja, já incomoda, sim, porque ela [Janja] vai começar a participar de reunião, já vai dar palpite e daqui a pouco, ela vai dizer ‘esse aqui vai ser ministro, esse aqui não pode’. Isso dá confusão. Se é assim na transição, imagina quando virar primeira-dama”, disse.
Em sua fala, a jornalista ainda citou outras três primeiras-damas Yolanda Costa e Silva (1907-1991), mulher de Costa e Silva (1899-1969), como uma mulher “super maquiada, super artificial”.
Lucy Geisel (1917-2000), mulher de Ernesto Geisel (1907-1966), como uma representante “muito discreta, dona de casa”. E uma situação com Rosane Collor, ex-mulher de Fernando Collor: “quem se esqueceu da Rosane Collor, jogando aliança fora, fazendo confusão, daí todo dia tinha briga, diziam que ela fazia coisas religiosas meio estranhas na casa da Dinda”.
Reações
Nas redes sociais, a repercussão da fala da jornalista gerou algumas publicações com a hashtag “Respeita a Janja”. O presidente eleito, Lula (PT), postou uma foto com a esposa.
❤️ @JanjaLula
Foto: @ricardostuckert pic.twitter.com/xACco8WnRg
— Lula (@LulaOficial) November 12, 2022
A deputada eleita e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também comentou o caso. “Em vez de se referir a Ruth Cardoso como alguém de atuação restrita, para fazer o contraponto ao protagonismo de Janja, Eliane Cantanhêde poderia ter celebrado que a futura primeira-dama, ao mesmo tempo em que deixa de ser mera figurante e inova com sua atuação”, pontuou.
Ver essa foto no Instagram
https://www.instagram.com/p/Ck4cjupuusP/?utm_source=ig_web_copy_link
Diante às críticas, Cantanhêde publicou em sua conta no Twitter que se referia ao papel da primeira-dama segundo à Constituição. A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, o senador Randolfe Rodrigues e outros congressistas se manifestaram.
Alguém falar de “machismo incrustado” comigo não é só injusto, é ridículo. Meu feminismo está no DNA e numa vida inteira. Elogiei Janja, apenas separei relação pessoal com função pública.
— Eliane Cantanhêde (@ECantanhede) November 12, 2022
4) sim, Ruth Cardoso era excelente mas por seu trabalho na assistência social e não por qualquer marcador de classe, como faz supor ao compará-la com Janja.
— Thiago Amparo (@thiamparo) November 12, 2022
Este é um falso dilema. Inverter o sexo na equação não elimina que são as mulheres – não homens – sujeitos à subordinação. Feministas, inclusive liberais, já falam disso há décadas. Sugiro lê-las e aí conversamos. Que tal, @ECantanhede? Aqui vai MacKinnon https://t.co/dDcBVGWDTH https://t.co/A29kjogmfc
— Thiago Amparo (@thiamparo) November 13, 2022
Lugar de mulher opinar na politica não é entre quatro paredes.
A ideologia do 1º damismo é muito cafona e rebaixada.
Respeita @JanjaLula
Minha solidariedade à Janja diante do comentário atrasado de Eliane Catanhede— Jandira Feghali 🇧🇷🚩 (@jandira_feghali) November 12, 2022
Já se foi o tempo em que o Brasil tinha primeiras-damas “recatadas e do lar” com uma função unicamente secundária e de submissão. Janja representa milhões de brasileiras que lutam por igualdade e combatem o patriarcado. @JanjaLula sua força é infinita e seu papel é ÚNICO!
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) November 12, 2022
A declaração da jornalista Eliane Cantanhede sobre Janja precisa ser colocada em seu devido lugar: é violenta, é delinquente, é machista, misógina e perversa. Vamos repetir o que foi feito com dona Marisa? Não aprendemos nada? Nojo. Muito muito nojohttps://t.co/74EOJxQ6Yo
— Milly Lacombe (@millylacombe) November 12, 2022
A fala de Eliane Catanhede sobre Janja é das piores coisas que já vimos uma mulher falar sobre outra. @JanjaLula sempre disse que gostaria de ressignificar esse papel de primeira dama e pelo visto ela já começou a fazê-lo.Janja não veio para ficar nos bastidores. RESPEITA A JANJA
— Daniela Mercury (@danielamercury) November 12, 2022
Janja entende muito, trabalha dia e noite e é um orgulho pro Brasil tê-la como primeira-dama.
A mulher é socióloga com MBA em Gestão Social e Sustentabilidade.
Respeita a Janja! pic.twitter.com/eY5bii3PaP
— Felipe Neto 🦉 (@felipeneto) November 12, 2022
Acabo de ver o comentário misógino da jornalista Eliane Cantanhede sobre @JanjaLula , a esposa de Lula. A tentativa de “enquadrar” de maneira conservadora a postura de Janja – cuja alegria sempre me comove pessoalmente – foi além misógina, cafona.
— Marcia Tiburi (@marciatiburi) November 12, 2022
meu grau de indignação com esse rolê da catanhede com a @JanjaLula ta altíssimo. que posicionamento absurdo, ultrapassado, cafona e egoista.
ela estava no “quarto do marido” quando falou de janja? não estava.
— Maria Rita (@MariaRita) November 13, 2022
Respeita a Janja!
É um orgulho ter como primeira dama uma mulher inteligente, alegre e competente.
Se isso incomoda alguém, o problema é da pessoa, e se chama machismo.— Leandra Leal (@leandraleal) November 12, 2022
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.