Política

‘Estamos numa guerra. Vão roubar nossa liberdade’, diz Bolsonaro sobre possível vitória de Lula

O ex-capitão voltou a atacar indiretamente o STF a tentar culpar governos anteriores pelo alto preço dos combustíveis durante a sua gestão

Foto: Reprodução
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a maior parte do seu discurso no evento de pré-partida da Unidade de Processamento de Gás Natural da Petrobras, no Rio de Janeiro nesta segunda-feira 31, para atacar o ex-presidente Lula e o PT. Em declarações com tons alarmistas, o ex-capitão afirmou estar ‘em uma guerra’ com o adversário e disse que, se Lula for realmente eleito, ele irá ‘roubar a liberdade’ dos brasileiros.

“Estamos numa guerra. Se aquele bando, aquela quadrilha voltar não vai ser só a Petrobras que deve ser arrasada. Vão roubar a nossa liberdade”, disse Bolsonaro sem apresentar qualquer indício que sustente sua afirmação.

Em seguida, passou a repetir a manjada tese da extrema-direita de que o ‘Brasil irá virar uma Venezuela’ caso o PT retorne ao poder. Ainda exaltado, criticou as sinalizações de políticos da esquerda que, caso eleitos, dizem que irão rever a reforma trabalhista e outras medidas adotadas durante o atual governo.

Bolsonaro indicou até quem seriam os ministros de Lula caso ele retorne para o seu terceiro mandato como presidente. “Alguém acha que se o cara voltar, Zé Dirceu não vai pra Casa Civil? Dilma não vai pro Ministério da Defesa? [Defesa?, questionou um apoiador] É a Defesa mesmo, já que ela é mandona”, disse.

Não há qualquer sinal público por parte de Lula que estes cargos serão ocupados por Dirceu ou Dilma. Quando questionado sobre o assunto, o petista desconversa. Diz não saber sequer se oficialmente se será candidato e, portanto, que não há qualquer indicação de ministros.

Ainda em ‘previsões caóticas’, o ex-capitão afirmou que o preço dos combustíveis ainda tem lastros para piorar caso Lula seja eleito.

“Alguns acham que não pode ficar pior. Gasolina a 7 reais, diesel acima de 5. Alguém acha que se o bandido voltar pra cá ele vai colocar a gasolina a 3 reais, como fez no passado?”, questionou, tentando atribuir aos governos petistas a culpa pelo alto preço dos insumos enfrentadas no seu governo.

‘Toma lá, dá cá’

Bolsonaro também voltou a acusar Lula de entregar ministérios aos partidos em troca de apoio político.

“O PT que chegou com um brilhante discurso em 2003, se voltou pra um projeto de poder comprando partidos políticos, comprando quem aparecesse pela frente. Houve um milagre em 2018, quem era eu pra chegar à Presidência? Deputado do baixo clero era elogio pra mim. Aconteceu algo inacreditável, chegamos à Presidência”, disse.

Segundo disse mais adiante, essa prática nunca teria sido feita no seu governo. Não é o que mostra, porém, a prática.

Nas movimentações mais recentes, Bolsonaro levou Ciro Nogueira (PP), um dos principais líderes do Centrão, para ocupar o seu principal ministério, a Casa Civil. Importante ressaltar ainda que Nogueira, com a desidratação da popularidade de Bolsonaro, desbancou Paulo Guedes e recebeu mais poderes para ditar o orçamento de 2022, ano eleitoral.

Em outra mudança, recriou a pasta das Comunicações para abrigar Fábio Faria (PSD), outro político que lhe deu sustentação no Congresso. Há ainda a recriação do Ministério do Trabalho para manter Onyx Lorenzoni (DEM) com cadeira no primeiro escalão do governo.

Ainda mais recentemente, a sua filiação ao PL, de Valdemar Costa Neto, também indica a constante troca de favores do atual governo em busca de apoio político. Depois de abrir as portas do partido para o ex-capitão, Costa Neto já emplacou ao menos três indicações em cargos importantes e pode aumentar sua influência ganhando novos ministérios com a aproximação das eleições.

É no atual governo também que o chamado orçamento secreto foi implementado. A política resume o ‘toma lá, da cá’, já que parlamentares, com pouquíssima transparência, indicam emendas em troca de votos favoráveis ao presidente. A medida faz com que o Congresso tenha mais poderes sobre o orçamento da União do que os ministérios.

Críticas ao Supremo

No discurso inflamado de ataques ao PT, Bolsonaro também fez críticas indiretas ao Supremo Tribunal Federal.

“Vocês estão vendo os absurdos que acontecem no Brasil. No mundo todo, quem parte para uma ditadura é o chefe do executivo, aqui é o contrário, é o chefe do executivo que resiste e é acusado de tudo, responsabilizado por tudo”, disse pouco antes de falar que foi impedido pelo tribunal de agir durante a pandemia.

Sobre as suas políticas de enfrentamento ao coronavírus, Bolsonaro voltou a dizer ‘que acertou em todas’ e fazer pouco caso das quase 630 mil mortes no Brasil.

“Quase diariamente a imprensa é obrigada a mostrar que não erramos nenhuma [política na pandemia]. Lamentamos as mortes, mas a vida continua”, afirmou.

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