Política
Em reunião, ministro da Defesa disse que se reunia com comandantes para discutir eleição e reeleger Bolsonaro
A gravação do encontro serviu de base para a operação da Polícia Federal sobre a articulação de um golpe de Estado em 2022


O general Paulo Sérgio Nogueira, à época ministro da Defesa de Jair Bolsonaro (PL), afirmou em uma reunião de julho de 2022 que se encontrava regularmente com comandantes das Forças Armadas para discutir o processo eleitoral e obter “êxito” na reeleição do então presidente.
Na ocasião, Bolsonaro exigiu “ações” sobre as eleições, em meio a acusações infundadas de fraude. Nogueira tomou a palavra e destacou a participação das Forças Armadas nas etapas de fiscalização do processo.
“Senhor presidente, eu estou realizando reuniões com os comandantes de Forças quase que semanalmente. Esse cenário nós estudamos, nós trabalhamos, nós temos reuniões pela frente decisivas pra gente ver o que pode ser feito”, disse o então ministro. “Que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha, e o senhor, com o que a gente vê, no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo. Esse é o desejo de todos nós”.
A gravação da reunião, encontrada no computador do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, é um dos elementos que basearam a operação da Polícia Federal sobre a articulação de um golpe de Estado em 2022.
Nesta sexta-feira 9, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, derrubou o sigilo do vídeo. Assista à íntegra neste link.
Uma das ações apresentadas por Nogueira no encontro é o fato de o Ministério da Defesa ter incluído técnicos escolhidos pela pasta na comissão de transparência do Tribunal Superior Eleitoral, com o intuito de participar da auditoria das urnas e, assim, reforçar a falsa alegação de que não haveria “lisura” no processo.
Ao falar sobre os trabalhos com a comissão do TSE, ele disse se sentir em uma “linha de contato com o inimigo”.
“Ou seja, na guerra, a gente ‘linha de contato, linha de partido, eu vou romper aqui e iniciar minha operação’. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato”, afirmou. “Nós temos, sim, que precificar e ajudar nesse sentido, para que a gente não fique sozinho nesse processo. Nós estaremos em cada fase pressionando. E daí? Nós vamos ter um sucesso, um resultado, uma transparência, uma segurança, uma condição de dizer: ‘não, realmente é mínima a chance de fraude, ou é grande a chance de fraude?'”
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