Política

Em reunião esvaziada, Bolsonaro repete fake news sobre as urnas a embaixadores

O presidente disse que, por conta de uma suposta fraude, as eleições de 2020 não deveriam ter ocorrido – mas não apresentou provas de que resultados foram alterados

Discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi transmitido por TV estatal. Foto: Reprodução
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a reproduzir acusações sem provas ao sistema eleitoral brasileiro, dessa vez em reunião com representantes de outros países, nesta segunda-feira 18, em Brasília.

Bolsonaro citou mais uma vez a existência de um inquérito referente a uma invasão hacker no sistema eleitoral em 2018. Informações equivocadas sobre a investigação foram divulgadas pelo presidente no ano passado, em live na internet.

Quando o presidente levou a público a existência do inquérito, o próprio Tribunal Superior Eleitoral publicou uma nota com esclarecimentos. O TSE disse, na época, que de fato havia sido detectado um ataque ao sistema eleitoral, mas que “o acesso indevido não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018”.

Bolsonaro disse que o hacker obteve acesso, num período de oito meses, a “milhares de códigos-fonte” e a “várias senhas de autoridades”, o que teria permitido a “alteração de dados de partidos e candidatos” e “até mesmo excluir nomes e trocar votos entre candidatos”.

O TSE, porém, já declarou em nota que “o código-fonte dos programas utilizados passa por sucessivas verificações e testes, aptos a identificar qualquer alteração ou manipulação” e que “nada de anormal ocorreu”.

O Tribunal também já disse que “o código-fonte é acessível, a todo o tempo, aos partidos políticos, à OAB, à Polícia Federal e a outras entidades que participam do processo”, que “uma vez assinado digitalmente e lacrado, não existe a possibilidade de adulteração” e que “o programa simplesmente não roda se vier a ser modificado”.

Bolsonaro também afirmou que o próprio TSE afirma que o sistema não é “auditável” e ironizou a presença de observadores no pleito, mas o Tribunal, na verdade, afirma que “os sistemas usados nas Eleições de 2018 estão disponíveis na sala-cofre para os interessados, que podem analisar tanto o código-fonte quanto os sistemas lacrados e constatar que tudo transcorreu com precisão e lisura”.

O presidente acusou ainda o TSE de “falta de colaboração para com a apuração do que os hackers tinham feito ou não”, mas o Tribunal alega que o próprio órgão “encaminhou à Polícia Federal as informações necessárias à apuração dos fatos e prestou as informações disponíveis”. Declarou, ainda, que “nunca se comunicou ao TSE qualquer elemento indicativo de fraude”.

“Cabe reiterar que as urnas eletrônicas jamais entram em rede. Por não serem conectadas à internet, não são passíveis de acesso remoto, o que impede qualquer tipo de interferência externa no processo de votação e de apuração. Por essa razão, é possível afirmar, com margem de certeza, que a invasão investigada não teve qualquer impacto sobre o resultado das eleições”, diz nota do TSE de 2021.

Aos embaixadores, Bolsonaro disse que “não poderíamos ter tido eleições de 2020 sem apuração total do que aconteceu lá dentro” e relembrou os questionamentos do PSDB às eleições de 2014, mas até mesmo lideranças tucanas atestam a segurança das urnasnem mesmo a auditoria do PSDB apontou fraude naquela ocasião.

Bolsonaro também criticou ministros do Supremo Tribunal Federal por terem tornado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elegível, mas não mencionou que os motivos para essa decisão se baseavam em revelações que apontaram conduta suspeita do ex-juiz Sérgio Moro na condução das investigações sobre o petista.

A reunião com embaixadores foi transmitida pela televisão estatal, mas vários convidados recusaram estar presentes. A imprensa foi impedida de acompanhar o evento.

 

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