Política
Em meio à pressão de movimentos sociais, Lula mantém o presidente do Incra
Segundo aliados do presidente, as discussões sobre a permanência de Cesar Aldrighi aconteceram no final de semana


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descartou escolher um nome apoiado pelo MST para comandar o Incra, autarquia federal responsável pela reforma agrária, e decidiu manter Cesar Fernando Aldrighi na presidência do órgão. A informação foi antecipada por CartaCapital horas antes de o Planalto confirmar a indicação do engenheiro.
Segundo interlocutores de Lula, as discussões sobre a manutenção do engenheiro aconteceram no final de semana, em meio à pressão de movimentos ligados à luta do campo pela indicação. Durante evento no Paraná, o ministro Paulo Teixeira (PT) afirmou que o martelo seria batido no início da semana.
À frente do Incra de forma interina desde janeiro, Aldrighi é formado pela Universidade Federal de Pelotas, tem especialização em cooperativismo e é servidor de carreira do órgão desde 2004. O engenheiro ainda foi secretário estadual de Agricultura e Abastecimento no Rio Grande do Sul entre 2001 e 2002.
O MST indicou para o posto a advogada e ex-secretária de Agricultura em Sergipe Rose Rodrigues. Ela chegou a ter o nome avalizado por Lula, que garantiu a pessoas próximas a nomeação.
Como mostrou CartaCapital na última semana, ambos se reuniram para discutir as prioridades do órgão durante almoço na casa do ex-deputado Luiz Mitidieri (PSD), em Aracaju.
Uma semana depois, porém, o coordenador do Núcleo Agrário do PT na Câmara, o deputado Airton Faleiro (PA), disse que o Planalto recuou na indicação da sergipana, gerando incômodo entre movimentos sociais.
“Temos informações de que a companheira Rosilene Rodrigues não será mais nomeada para a função”, escreveu o parlamentar no Twitter. “Ficamos na expectativa que se acelere a nomeação da direção nacional da autarquia, pois caminhamos para dois meses do governo e as demandas são intensas e urgentes.”
Entre lideranças do movimento, o recuo na indicação da advogada é atribuído ao ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência. A vice-presidente do PT em Sergipe, Ana Lúcia Menezes, chegou a questionar, em mensagens às quais a reportagem teve acesso, o silêncio de Macêdo diante do caso. Procurado, ele não quis se manifestar.
O coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, também escreveu em uma rede social que estaria “começando a acender a luz amarela” na relação com o governo Lula em razão da demora. Antes de apresentar o nome de Rose, o movimento também havia defendido a indicação do ex-presidente da Funai Carlos Frederico Marés.
A reportagem apurou que a sergipana ficará a Diretoria de Desenvolvimento da autarquia. Além dela, a nova direção do Incra será composta por:
- Gustavo Noronha, na Diretoria de Gestão Estratégica;
- João Pedro Costa, na Diretoria de Governança Fundiária; e
- Maria Rita Reis, na Procuradoria Federal Especializada.
O Incra, hoje vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, é alvo de disputa entre alas do PT de diferentes regiões do País. O órgão tem o objetivo de criar assentamentos rurais para o repasse de terras a trabalhadores em situação de vulnerabilidade, além de mediar os conflitos envolvendo comunidades quilombolas.
Sob Jair Bolsonaro (PL), a autarquia foi entregue a lideranças da bancada ruralista e passou por um processo de desmonte, com a paralisação da política de reforma agrária e a suspensão de aquisição e desapropriação de terras.
Com a nomeação da diretoria, a expectativa dos movimentos é de que o governo promova uma espécie de ‘exoneraço’ dos indicados por Bolsonaro às superintendências regionais do Incra. Em Alagoas, por exemplo, o superintendente do órgão é o bolsonarista Cesar Lira, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
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