Política

Marcos Boulos critica a guerra de Bolsonaro contra máscaras

A CartaCapital, o infectologista explica os riscos da declaração do presidente e lamenta a postura do governo: ‘Fico abismado’

O MÉDICO INFECTOLOGISTA MARCOS BOULOS. FOTO: DIVULGAÇÃO/TV BRASIL
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A declaração do presidente Jair Bolsonaro em defesa do fim do uso de máscaras por vacinados e recuperados da Covid-19 representa um grande risco à saúde pública e é mais um golpe de negacionismo. A conclusão é do médico infectologista Marcos Boulos, que denuncia o “discurso de morte” do ocupante do Palácio do Planalto.

Durante evento do Ministério do Turismo nesta quinta, Bolsonaro adiantou que o Ministério da Saúde emitirá um parecer que desobrigará o uso de máscara por pessoas vacinadas ou que já tenham sido infectadas pelo novo coronavírus.

Mais tarde, em transmissão ao vivo nas redes sociais, o ocupante do Palácio do Planalto reforçou a ameaça. “Orientar a desobrigação de uso da máscara para quem já foi vacinado ou já contraiu o vírus. A gente não pode viver numa opressão a vida toda”, disse.

“As pessoas, mesmo vacinadas, podem estar assintomáticas e transmitindo. Então, todos têm de usar máscara até que consigamos ter a imunidade populacional, a chamada imunidade de rebanho, e isso provavelmente só acontecerá próximo do fim do ano”, explicou Boulos em entrevista a CartaCapital. “Isso é mais um golpe de negacionismo, deixar as pessoas tentarem a imunidade de qualquer jeito, com muito mais mortes. Só no nosso País estão acontecendo essas coisas”.

O especialista criticou a passividade do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, “comandado por uma pessoa que não entende absolutamente nada e é negacionista”.

“Não sei como ele [Queiroga] consegue ficar no ministério”.

Questionado sobre o que os brasileiros devem esperar nas próximas semanas da pandemia, Marcos Boulos alerta que o País vive o pico da transmissão do novo coronavírus e deve ultrapassar as 600 mil mortes por Covid-19 ainda em 2021. Ele pondera, entretanto, que o caos registrado entre abril e maio não tende a se repetir.

“As pessoas ficam otimistas porque diminuiu a morte de idosos, que estão vacinados. Mas proporcionalmente está aumentando entre os jovens. Você tem as UTIs lotadas em boa parte das capitais. Não vai ser tão dramático como em abril, porque estávamos com muitos idosos ainda [não vacinados], então a busca por UTI era muito alta”.

Segundo o infectologista, esperava-se que, “com o nível de vacinação que estava ocorrendo, o pico chegasse de maio para junho, para começar a descer, mas não é isso”. Como justificativa, ele indica a flexibilização precoce das medidas de distanciamento social e “esse discurso negacionista da Presidência da República”.

“Quando tem uma notícia dessas como a do Bolsonaro, incentiva-se outras pessoas a se infectarem. A vida não está normal. A Copa América é mais um incentivo: ‘Se está tendo jogo de futebol, por que não posso ficar gritando nos bares vendo na televisão?’. É uma coisa absurda, não dá para entender”, aponta.

“Fico abismado de ver isso. Trabalho com epidemias desde a década de 1970, quase 50 anos, e nunca vi o que está acontecendo hoje. Eu nem sabia que tínhamos uma população tão grande de negacionistas, terraplanistas. É desestimulante para o profissional de saúde ver o que está acontecendo. Você passa a vida toda lutando para que houvesse uma democratização da saúde, para que todos tivessem acesso. O SUS é uma alegria, o plano de imunização é fantástico, aí vem um presidente que sai de uma ala de pessoas contra o desenvolvimento social, contra os ganhos sociais que tivemos nas últimas décadas, e põe tudo a perder. É um discurdo de morte”.

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