Política

Delação de Mauro Cid: Bolsonaro fez ao menos cinco reuniões para tramar golpe com militares

Relatos do ex-ajudante de ordens foram revelados pela coluna de Bela Megale, do jornal O Globo, a partir de informações obtidas com investigadores envolvidos no caso

Jair Bolsonaro e Mauro Cid. Foto: Secom
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O tenente-coronel Mauro Cid revelou à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ao menos cinco reuniões com militares para tratar de um golpe de Estado. Os encontros foram listados em diferentes depoimentos. As informações são da coluna de Bela Megale, do jornal O Globo, obtidas com investigadores envolvidos na apuração do caso.

Cid, importante lembrar, era o principal ajudante de ordens de Bolsonaro durante sua passagem pelo Planalto. Após ser preso por fraudes em cartões de vacinação, fechou um acordo de delação premiada.

A primeira reunião delatada por Cid ocorre em julho de 2022. O encontro foi gravado e contava com militares e ministros. Foi essa gravação, encontrada no computador do militar, que levou a PF a afirmar que ficou revelada ‘a dinâmica golpista’ na antiga gestão. Bolsonaro, entre outros sinais em favor da ruptura, pede que aliados ampliem os questionamentos sobre o sistema eleitoral. Ele, como é habitual, não fornece provas de suas afirmações.

A segunda reunião delatada por Cid foi o encontro em que Filipe Martins, outros assessor direto de Bolsonaro, apresentou a minuta de golpe ao ex-capitão logo após a derrota nas urnas. Ele estava acompanhado do advogado Amauri Feres Saad. Após ter conhecimento do documento, Bolsonaro teria pedido alterações. Um dos trechos modificados visava prender Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Com a nova minuta em mãos, Bolsonaro então se reuniu com militares em 7 dezembro de 2022. Nesta terceira reunião participaram os comandantes das Forças Armadas. Foi ali que Bolsonaro apresentou o documento aos fardados. O almirante Almir Garnier, da Marinha, teria concordado com o golpe e colocado a tropa à disposição de Bolsonaro. Os demais, dizem os relatos, não teriam embarcado na ação.

Este terceiro encontro, diz Cid, não contou com a sua presença. Ele soube, porém, o que foi discutido ali pouco tempo depois da reunião a partir de conversas com os próprios participantes. O ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, confirmou o fato à PF. Freire Gomes, general que chefiava o Exército, foi outro a apontar a ocorrência da reunião.

O quarto encontro, segundo a delação de Cid, ocorreu em 12 de dezembro de 2022 e serviu, de acordo com os investigadores da PF, para alinhar estratégias para tirar o plano de golpe do papel. Além de Cid, o major Rafael Martins estava presente na reunião. Mensagens apreendidas no celular do ex-ajudante de ordens sustentam o relato. Foi com Martins que Cid tratou, por exemplo, do financiamento do acampamento de onde partiram os golpistas do 8 de Janeiro. Na mensagem, os militares negociam a doação de 100 mil reais para os bolsonaristas.

Em 28 de dezembro, Cid afirma que Bolsonaro fez a quinta reunião para tramar o golpe. Nela participam, segundo O Globo, oficiais das forças especiais e assistentes de generais simpatizantes do golpe de Estado. A lista exata não foi revelada. Sabe-se, porém, que o coronel Bernardo Romão Correia Neto, do Exército, estava lá. Ele é quem teria organizado o grupo que participou do encontro. Mensagens no celular de Cid confirmariam, de acordo com os investigadores, o conteúdo da delação.

Nesta segunda-feira 11, Cid tornou a prestar depoimento à PF. Foi a sétima vez que o ex-ajudante de ordens fica de frente com os investigadores. Essa é a quarta oitiva desde que fechou a delação. O depoimento durou mais de 9 horas e tratou também da venda ilegal das joias e fraude nos cartões de vacinação. Ele voltou à PF para preencher lacunas abertas na linha do tempo da trama golpista após os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas. A avaliação geral é de que a oitiva teria esclarecido as dúvidas deixadas pelos relatos dos militares.

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