Política

Crise tucana: PSDB perde São Paulo após 28 anos e não elege nenhum governador em 1º turno

Fora do segundo turno, Rodrigo Garcia rompe tradição histórica da sigla no maior colégio eleitoral do país

O governador Rodrigo Garcia (PSDB). Foto: GOVSP
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A derrota do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, no primeiro turno redimensiona o tamanho do PSDB no cenário da política brasileira. A sigla perdeu ontem seu principal reduto, onde governava ininterruptamente há 28 anos. Nos tempos áureos, quando rivalizavam com o PT no plano nacional, os tucanos chegaram a eleger oito governadores, em 2010. O quadro agora é bem diferente. A sigla não elegeu nenhum candidato e estará no segundo turno em quatro estados (RS, PE, PB e MS).

Fora do segundo turno, Rodrigo Garcia não se posicionou ontem sobre como se comportará na disputa entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos). Durante toda a campanha, o governador disputou o eleitorado mais conservador com o ex-ministro de Bolsonaro, que acabou levando a melhor. De histórico no DEM, Garcia se transferiu para o PSDB para concorrer como governador depois que João Doria (PSDB) renunciou do cargo para tentar uma candidatura à Presidência abortada antes mesmo da campanha.

Estados-chave

Na disputa local, Garcia tentou se desvincular de Doria, de olho a não se deixar contaminar pela rejeição ao tucano, mas a estratégia não funcionou. A campanha tucana tentou um discurso que escapasse da polarização entre petistas e bolsonaristas, mas a reprodução do cenário nacional no estado falou mais alto.

Após o resultado, o tucano publicou apenas uma mensagem em suas redes sociais: “Quero agradecer o carinho com que fui recebido durante nossa campanha e os votos recebidos neste domingo. Vou continuar trabalhando para o Estado que tanto amo. São Paulo, conte sempre comigo”.

O PSDB também perdeu espaço em estados-chave. Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, onde a legenda já comandou o governo estadual, o candidato tucano Marcus Pestana figurou entre os nanicos e amargou menos de 1% dos votos. No Rio, terceiro estado com mais eleitores, o tucanato apoiou a reeleição de Cláudio Castro (PL), do partido do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Outra decepção ocorreu no Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Eduardo Leite liderava todas as pesquisas, mas acabou superado pelo bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL) com 37,5% dos votos. Leite passou ao segundo turno por uma apertada diferença de 2,5 mil votos sobre Edegar Pretto (PT). O ex-governador era tido como favorito, mas se tornou o alvo preferencial dos rivais. Sua gestão é bem avaliada pela população do estado nas pesquisas de opinião, mas a imagem do tucano ficou arranhada após ele quebrar a promessa de não concorrer à reeleição. Agora, Leite tende a ficar em desvantagem. Desde a redemocratização, os gaúchos nunca reelegeram o governador

Nordeste

No Mato Grosso do Sul, o governador tucano Reinaldo Azambuja não conseguiu emplacar no primeiro turno o seu sucessor e ex-secretário Eduardo Riedel. Mesmo se vinculando a Bolsonaro e tendo a ex-ministra Tereza Cristina em sua chapa, o candidato de Azambuja ficou atrás do capitão Renan Barbosa Contar (PRTB). Contar teve 26,72% dos votos válidos, contra 25,17% de Riedel.

As notícias positivas para os tucanos vieram do Nordeste. Em Pernambuco, a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra foi para o segundo turno contra Marília Arraes (Solidariedade), que passou a campanha colada em Lula. Arraes teve 23,85%, ante 21,09% de Raquel. A tucana quebrou a hegemonia do PSB naquele estado, cujo candidato Danilo Cabral (PSB) acabou em quarto lugar e ficou atrás do bolsonarista Anderson Ferreira (PL). Mesmo aqueles candidatos que surpreenderam, como o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, não se associaram a bandeiras tucanas. Pelo contrário. Cunha Lima se vinculou a Bolsonaro para ir ao segundo turno na Paraíba contra o governador João Azevedo (PSB), que representa o campo de esquerda.

Descendente

Fundado em 1988 por um grupo de políticos críticos aos rumos fisiológicos do PMDB, liderados, entre outros, por Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, o PSDB venceu ou chegou ao segundo turno em todas as disputas eleitorais para presidente ocorridas no Brasil entre 1994 e 2014.

A sigla iniciou período turbulento a partir de 2018, quando amargou o quarto lugar na eleição presidencial e Geraldo Alckmin teve menos de 5% dos votos. Naquela eleição, Alckmin ainda teve o apoio da maior aliança partidária, mas viu o eleitorado mais à direita migrar para Jair Bolsonaro.

O pleito de 2022 ficou marcado como o primeiro em que o partido não lançou candidato à Presidência da República. Depois de fazer prévias internas, vencidas por João Doria contra o gaúcho Eduardo Leite, o partido não conseguiu se unir e acabou decidindo pelo apoio a Simone Tebet (MDB).

A disputa nacional foi suplantada pela corrida em São Paulo. A sigla queria priorizar a reeleição de Garcia e sua cúpula praticamente exigiu a retirada de João Doria da disputa presidencial. O objetivo era blindar Garcia da alta rejeição do então governador paulista, de quem ele tentou se descolar. No entanto, o candidato não conseguiu furar a polarização nacional representada por candidatos vinculados a Lula e Jair Bolsonaro.

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