Economia
CPI da Americanas adia votação de relatório em meio a críticas por não responsabilizar bilionários
Integrantes da comissão articulam apresentar relatórios alternativos com a responsabilização de Lemann, Telles e Sicupira
O presidente da CPI da Americanas, o deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), acolheu um pedido de parlamentares e adiou a votação do relatório final da comissão, que seria analisado nesta terça-feira 5. A deliberação deve acontecer em 19 de setembro, no limite do prazo para o encerramento dos trabalhos.
Deputados do PL e do PSOL se uniram para postergar a votação após o relatório produzido por Carlos Chiodini (MDB-SC) não apontar culpados pela fraude bilionária na varejista. Os parlamentares também criticam o comando da CPI por não convocar a depor o trio de acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
O relatório até sugere o envolvimento da antiga diretoria da companhia, mas evita fazer “um juízo de valor seguro” sobre a participação no episódio. Apontar os responsáveis pela fraude, acrescenta o texto, “resultaria em prováveis alegações de violação de direitos”.
O teor do relatório foi criticado pelo deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE). “É um posicionamento muito estranho de uma CPI tomar vários depoimentos e não chegar a nenhuma conclusão. Estamos servindo de chacota”, pontuou.
Enquanto vigora o pedido de vista, integrantes da comissão articulam apresentar relatórios alternativos com a responsabilização dos empresários. Até a votação, os deputados também tentarão ouvir Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas.
Gutierrez chegou a ser convocado, mas não compareceu porque está em viagem ao exterior. Como alternativa, enviou uma carta com acusações contra a atual direção da companhia e se dispôs a depor por videoconferência.
“Não posso aceitar que os requerimentos nem mesmo tenham sido votados. O ex-diretor Miguel Gutierrez deveria ter sido ouvido mesmo por videoconferência”, protestou a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).
Gutierrez, que esteve à frente da companhia por vinte anos, ainda acusou seu sucessor, Sérgio Rial, de mentir em depoimento à comissão quando disse que o trio de acionistas não sabia das fraudes nas contas da Americanas. Os empresários citados pelo ex-diretor negam as acusações.
“Me tornei conveniente ‘bode expiatório’ para ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”, escreveu o ex-CEO.
A CPI foi criada em maio para investigar as inconsistências da ordem de 20 bilhões de reais detectadas em lançamentos contábeis da Americanas.
A varejista entrou em recuperação judicial após a descoberta do rombo, com dívidas de 43 bilhões de reais com cerca de 16,3 mil credores e apenas 800 milhões de reais em caixa.
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