Economia

Como o ‘mercado’ avalia o governo Lula, segundo nova pesquisa Quaest

Para Felipe Nunes, diretor do instituto, comportamento do governo explica o ceticismo do setor sobre a meta fiscal

Fernando Haddad e Lula. Foto: Nelson Almeida/AFP
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A avaliação do “mercado” sobre o governo do presidente Lula (PT) piorou. De acordo com agentes de fundos de investimento, a perspectiva para a economia do Brasil vem se tornando cada vez mais negativa, e o principal fator seria a “falta de uma política fiscal que funcione”. É o que mostra a nova pesquisa O que pensa o mercado financeiro, divulgada pela Genial/Quaest nesta quarta-feira 22.

O instituto entrevistou gestores, economistas e tomadores de decisão do “mercado”, responsáveis por fundos de investimento que operam em São Paulo e no Rio de Janeiro. A maioria dos entrevistados (52%) avaliou negativamente o governo Lula, o que representa um aumento de cinco pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, divulgada em setembro. 

Outros 39% disseram que o governo é regular (eram 41%). Para 9%, porém, a avaliação do governo é positiva, o que revela um recuo de três pontos em comparação com a rodada anterior. 

A queda na avaliação do mercado também vale para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), apesar de ele possuir números mais positivos que os do governo. Conforme o levantamento, 43% avaliam positivamente o trabalho de Haddad (-3 pontos), enquanto 33% disseram que o trabalho é regular (+3) e 24% avaliaram como negativa a condução do ministro da Economia (+1 ponto).

O “mercado” começou o ano com baixas expectativas sobre o futuro econômico do País. Na rodada de março, por exemplo, 78% diziam que a economia iria piorar. À medida que as principais medidas do governo foram anunciadas, o otimismo cresceu, a ponto de, em julho, a maioria (53%) responder que esperava uma melhora na economia nos 12 meses seguintes.

Esse otimismo, porém, arrefeceu. No levantamento de novembro, 55% disseram acreditar que a economia piorará nos próximos 12 meses.

A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre 16 e 21 de novembro. O levantamento contou com 100 entrevistas com fundos de investimento. 

Debate sobre meta fiscal levou a uma mudança na percepção da economia

Parte da avaliação se explica pela percepção que o “mercado” tem sobre os responsáveis pela economia. Segundo a pesquisa, 80% dos entrevistados avaliam que a qualidade da equipe econômica “é pior que a do governo anterior”, enquanto 8% apontam que a atual equipe é “melhor que a do governo anterior”. Nesse quesito, 12% não viram diferença.

Outra parte diz respeito ao que o setor considera como o principal fator que dificultaria a melhora da economia: a “falta de uma política fiscal que funcione”. 77% dos entrevistados disseram que este é o ponto-chave, em um aumento de 20 pontos em comparação com a pesquisa anterior (57%). 

De acordo com o diretor da Quaest, Felipe Nunes, o fato de o mercado receber a política fiscal com ceticismo se deve ao “próprio comportamento do governo”. A CartaCapital, Nunes apontou que “o principal fator para essa mudança na percepção da economia foi o debate, que se tornou público dentro do governo, em torno da meta fiscal”.

“A dúvida se o governo atingiria o déficit zero já existia nos agentes do mercado, mas, quando essa discussão se torna pública, ela acaba formalizando uma certa insegurança do governo para o mercado”, explica. Segundo ele, a insegurança é determinante para a deterioração na avaliação da economia.

“Primeiro, o governo apresentou uma meta fiscal que o mercado achava difícil cumprir, dados os compromissos com os programas sociais que o governo Lula tem. Mas, depois, isso ficou ainda mais deflagrado com a fala do presidente Lula dizendo que seria difícil, mesmo que todo mundo se empenhasse, chegar nesse resultado.”

A meta de déficit zero esteve no centro do debate do governo nas últimas semanas.

O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias no Congresso, deputado Danilo Forte (União-CE), afirmou na terça 21 que o déficit zero é de “difícil execução“. Haddad, porém, sustenta que o governo mantenha a meta, apesar da resistência, principalmente, do chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT).

Na semana passada, um dos vice-líderes do governo no Congresso, Lindbergh Farias (PT-RJ), disse a CartaCapital que considera a meta “uma rendição ao mercado”. 

O resultado fiscal se refere ao balanço entre gastos e receitas do governo. O déficit zero significa, na prática, que o saldo entre despesas e receitas do governo estaria equilibrado. Para isso, porém, é necessário ampliar a arrecadação de tributos e controlar os gastos, o que poderia, em alguma medida, influenciar nos programas do governo. A discussão principal diz respeito a como o governo pode ser capaz de atingir a meta sem comprometer o investimento em programas sociais.

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