Justiça

Como Mendonça se isola em votações no STF sobre bolsonaristas

No episódio mais recente, o ministro foi o único a votar pelo impedimento de Moraes no julgamento do golpe

Como Mendonça se isola em votações no STF sobre bolsonaristas
Como Mendonça se isola em votações no STF sobre bolsonaristas
Os ministros do STF Alexandre de Moraes e André Mendonça. Foto: Antonio Augusto/STF
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O ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça tem se isolado em julgamentos relacionados a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto a maioria dos ministros endossa as manifestações do relator, Alexandre de Moraes.

Nesta terça-feira 15, Mendonça foi o único a votar por declarar Moraes impedido de julgar o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, a partir de um pedido apresentado por Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro.

Na lista de discordâncias ainda estão processos do 8 de Janeiro de 2023: na semana passada, Mendonça e Kassio Nunes Marques foram os únicos a votar pela absolvição de 17 réus acusados de participação nos ataques.

Recentemente, o ministro Luiz Fux também passou a sinalizar a possibilidade de defender a revisão de penas aplicadas a alguns réus do 8 de Janeiro, sob o argumento de que o STF teria julgado as ações penais “sob violenta emoção”. Ele ainda não deu, porém, qualquer passo concreto nesse sentido.

Também na semana passada, somente Mendonça e Kassio votaram por acolher um recurso do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra a decisão que o condenou a indenizar, por danos morais, a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo.

Pouco antes, no fim de março, Mendonça defendeu conceder liberdade condicional ao ex-deputado federal Daniel Silveira. Além dele, Kassio recomendou essa solução.

A divergência entre Mendonça e a ala liderada por Moraes, contudo, não é inédita.

Em 20 de março, Mendonça já havia acatado pedidos das defesas de Bolsonaro e do ex-ministro Walter Braga Netto e sido o único a votar por retirar Moraes e Flávio Dino do julgamento da denúncia sobre a tentativa de golpe.

Respaldados pelo placar de 9 a 1, Moraes e Dino votaram, em 26 de março, por tornar réus Bolsonaro e sete aliados — Mendonça, por outro lado, não esteve na votação, por não compor a Primeira Turma do tribunal, na qual tramita o caso.

André Mendonça já havia divergido da maioria sobre outros processos envolvendo políticos de extrema-direita. Em dezembro, por exemplo, proferiu o único voto contrário à condenação de Roberto Jefferson no julgamento em que a Corte sentenciou o ex-deputado federal a nove anos de prisão por calúnia, homofobia, incitação ao crime e tentativa de impedir o livre exercício dos poderes.

Mendonça e Moraes também já discutiram publicamente no plenário sobre o 8 de Janeiro.

O bate-boca aconteceu em 14 de setembro de 2023, quando a Corte julgava o primeiro réu por participação nos atos golpistas. Mendonça, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, lembrou sua atuação em datas como o 7 de Setembro e disse não entender “como o Palácio do Planalto foi invadido da forma como foi invadido”.

Moraes interrompeu o colega e frisou ter havido omissão da Polícia Militar do Distrito Federal no 8 de Janeiro.

“Eu também fui ministro da Justiça e sabemos, nós dois, que o ministro da Justiça não pode utilizar a Força Nacional se não houver autorização do governo do Distrito Federal, porque isso fere o princípio federativo”, prosseguiu.

Moraes também disse considerar “um absurdo” Mendonça “querer falar que a culpa do 8 de Janeiro é do ministro da Justiça”. À época, o chefe da pasta era Flávio Dino, que passaria a integrar o STF em fevereiro de 2024.

“Vossa excelência é que está dizendo isso. Eu queria, o Brasil quer ver esses vídeos do Ministério da Justiça”, respondeu Mendonça.

“É um absurdo, quando cinco comandantes [da PM] estão presos, quando o ex-ministro da Justiça [Anderson Torres] fugiu para os Estados Unidos, jogou o celular dele no lixo e foi preso. E, agora, vossa excelência vem, no plenário do STF, que foi destruído, dizer que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo? Tenha dó”, completou Moraes.

“Não coloque palavras na minha boca. Tenha dó vossa excelência”, devolveu Mendonça.

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