Política

Com Ceciliano e Molon na disputa, PT e PSB mostram falta de sintonia no Rio

‘Quanto antes encararmos essa questão, melhor será para a candidatura de Lula’, afirma um dirigente petista a tentar ampliar o palanque do ex-presidente

André Ceciliano e Alessandro Molon. Fotos: Reprodução/Redes Sociais
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Equacionar as pressões e os interesses de PT e PSB nos estados tem sido um dos maiores desafios políticos de Lula e sua coordenação de campanha. Alguns acordos exigiram muita saliva e jogo de cintura dos dirigentes e pré-candidatos aos governos estaduais ou ao Senado – mas, após longas negociações, foram finalmente obtidos. É o caso de São Paulo, onde o socialista Márcio França aceitou a candidatura a senador e apoiará o petista Fernando Haddad na corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Ou do Espírito Santo, onde o pré-candidato petista ao governo, Fabiano Contarato, adiou suas pretensões políticas pela reeleição do pessebista Renato Casagrande.

Os efeitos desse entendimento foram estendidos até mesmo a estados onde PT e PSB nunca se bicaram, como Pernambuco e Rio Grande do Sul. Mas, ironicamente, no Rio de Janeiro, estado onde tudo indicava que uma frente ampla da esquerda se formaria mais facilmente em torno da candidatura de Marcelo Freixo ao Palácio Guanabara, que a crise entre os dois partidos está longe de uma solução. Tudo por causa da dura disputa de bastidores entre os candidatos ao Senado Alessandro Molon, do PSB, e André Ceciliano, do PT, problema que nem mesmo a presença de Lula no Rio foi capaz de resolver.

Apesar de o próprio Freixo ter pedido publicamente ao correligionário que abandonasse a disputa em respeito ao acordo firmado com o PT, que indicou Ceciliano para compor a chapa, Molon, que aparece como o mais bem colocado candidato da esquerda nas pesquisas, persiste na tese de que é o único com reais chances de derrotar os possíveis candidatos do campo bolsonarista Romário, do PL, e Marcelo Crivella, do Republicanos.

Para além de possíveis vaidades e interesses, a formação da chapa de Freixo para o Senado enfrenta um enorme desafio de ordem política: dar naturalidade à aliança entre Ceciliano e o pré-candidato a governador. Uma sondagem interna realizada pelo PT no início de julho colocou para a direção da campanha um problema: entre os eleitores que já definiram seu voto, a maioria que afirma votar em Lula e Freixo rejeita Ceciliano. De outro lado, a maioria que declara voto em Lula e Ceciliano diz que não votará em Freixo: “O quanto antes encararmos essa questão, melhor será para a candidatura de Lula”, afirma um dirigente do PT que trabalha para garantir a presença de Lula também no palanque do candidato do PDT ao governo, Rodrigo Neves.

Para o cacique petista, a atual tensão entre Ceciliano e Molon “reflete a falta de sintonia” entre PT e PSB no Rio: “A realidade é a seguinte: só o PT da zona sul faz campanha abertamente para o Freixo. E faz pela dobradinha com Molon. Já a base petista mais popular espalhada pelo estado faz campanha para o Lula e para o Ceciliano, mas não para o Freixo”.

Com a presença de Lula, Alckmin e milhares de pessoas, foi realizado em 7 de julho na Cinelândia, histórico palco político do Rio, o maior ato até aqui da pré-campanha. Nele, a rixa entre Molon e Ceciliano começou no palco e terminou em confusão entre assessores de ambos no tradicional bar Amarelinho. Apesar de Lula não ter sequer mencionado o impasse durante sua fala, Ceciliano foi o único autorizado a dividir o palco principal do ato com ele, Freixo e Alckmin, o que sinaliza sua posição. Ao microfone, Ceciliano, vaiado por parte dos presentes, afirmou que sempre esteve dentro do PT e ao lado de Lula, ao contrário de “muitos covardes que abandonaram o partido no momento mais difícil”.

Em um palco secundário, de onde falou ao público junto a outros parlamentares e dirigentes partidários, Molon – que deixou o PT em 2015, no auge da Lava Jato – retrucou ao apontar o dedo para a proximidade entre Ceciliano, que é presidente da Assembleia Legislativa do Rio, e o governador bolsonarista Cláudio Castro, do PL: “Precisamos enfrentar e derrotar Castro e Bolsonaro sem conciliação ou ambiguidade”, disse.

Na véspera do ato, enquanto Ceciliano participava com Lula e Freixo de um encontro com representantes da comunidade do samba, Molon foi recebido por Alckmin para uma conversa em particular e saiu otimista: “Ele vai nos ajudar”, disse. Outro trunfo é a pressão do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, com quem tem grande proximidade política desde que este o chamou para reestruturar o partido no Rio há quatro anos: “O PT precisa ser mais generoso conosco. Com Freixo e Molon, o PSB está oferecendo os dois melhores deputados do Brasil. Lula precisa fazer campanha em paz”, diz o dirigente, que é ligado à família Arraes, principal grupo político do partido em nível nacional. Sobre a ameaça feita por dirigentes do PT fluminense de deixar o apoio a Freixo em caso de insistência de Molon, Siqueira foi taxativo: “O PT sabe do nosso esforço por alianças em todos os estados. Não faria isso”, disse.

Apesar de o Tribunal Superior Eleitoral ter decidido que uma mesma chapa pode apresentar duas ou mais candidaturas ao Senado, esse acordo não acontecerá no Rio, garantem as partes: “O Molon não quer conciliar com ninguém. Existe um acordo feito entre PT e PSB para a chapa e espero que seja cumprido. A política vai se ajustar”, disse Ceciliano em entrevista ao jornal O Globo. Já Molon diz que, mesmo sem selar a paz com Ceciliano, irá até o fim com sua candidatura ao Senado: “Ter duas candidaturas não é o cenário ideal, mas é possível”, diz.

Embora não tenha se manifestado publicamente durante sua estada no Rio, Lula deixou clara sua insatisfação em conversas privadas com dirigentes regionais do PT. A maior preocupação do pré-candidato à Presidência é a fragmentação de sua base às vésperas do início oficial da campanha eleitoral, já que PCdoB, PV e Solidariedade apoiam Ceciliano, enquanto PSOL e Rede apoiam Molon: “O Lula esteve no Rio para reafirmar seu apoio a Freixo e a Ceciliano. Ele não confia em Molon, que um dia já deu nota 10 para a Lava Jato e nota 2 para seu governo. Mas, quem conhece o Lula sabe que ele jamais deixará isso interferir em seu raciocínio político. O que o Lula não admite é que essa disputa interna venha a atrapalhar sua campanha no Rio e a missão de tirar Bolsonaro da Presidência”, diz o dirigente petista ouvido por CartaCapital.

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