Política

Caminhoneiro agitador dos atos do 7 de Setembro, Zé Trovão puxa bancada de alvos do STF no Congresso

Suspeito de organizar ataques aos ministros da Corte se filia ao PL e, a exemplo de outros investigados, traça plano eleitoral

Oswaldo Eustáquio e Zé Trovão. Foto: Reprodução/Redes Sociais
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Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que são investigados em inquéritos conduzidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pela suspeita da organização de atos antidemocráticos e ataques aos ministros da Corte se filiaram a partidos políticos nas últimas semanas para disputar candidaturas nas eleições deste ano.

As principais legendas escolhidas foram o PL, do presidente Jair Bolsonaro, e o PTB, que foi alvo de decisões desfavoráveis proferidas recentemente por Moraes. O ministro afastou o presidente Marcus Vinícius Neskau pela suspeita de que ele atuava sob influência de Roberto Jefferson, o presidente anterior da legenda — também afastado por Moraes e denunciado por ameaças ao STF.

A avaliação de integrantes desses partidos é que as investigações acabaram conferindo exposição midiática a esses nomes e dando força para que entrassem para a política. Alguns chegaram até a serem presos no ano passado, mas até o momento nenhum deles teve qualquer condenação por conta das ações contra as instituições democráticas. Com isso, não existe impedimento previsto na legislação para suas candidaturas.

Os inquéritos continuam em tramitação no STF. Todos negam o cometimento de irregularidades e dizem que nunca apoiaram ações antidemocráticas.

Um dos nomes mais célebres é o de Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, que chegou a fugir para o exterior para escapar de uma ordem de prisão de Moraes enquanto incentivava que caminhoneiros fechassem as estradas do país no 7 de Setembro para exigir o impeachment de ministros do Supremo. Ele passou dois meses foragido e voltou ao Brasil em outubro do ano passado para se entregar à PF. Passou mais dois meses encarcerado até ser mandado para prisão domiciliar.

Inicialmente, Zé Trovão buscou o PTB de Santa Catarina com o plano de ser candidato à Câmara dos Deputados. Segundo fontes da legenda, ele deixou o partido e se filiou ao PL, pelo qual pretende disputar o posto. Procurado, o presidente do PL de Santa Catarina, senador Jorginho Mello, afirmou que não comentaria o assunto.

Outro alvo prioritário de Moraes, o deputado federal Daniel Silveira (RJ) se filiou ao PTB no final do mês passado com o plano de lançar uma candidatura ao Senado. Mas isso dependerá do desfecho da ação penal contra ele que deverá ser julgada este mês pelo STF — em caso de condenação, ele poderá se tornar inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

O partido também aposta em uma candidatura de Roberto Jefferson a deputado federal pelo Rio de Janeiro, cargo do qual foi cassado em 2005 após o escândalo do mensalão. Condenado em 2012 pelo STF a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do mensalão, Jefferson cumpriu pena e foi beneficiado por um perdão judicial concedido pelo Supremo em 2016. Por isso, a avaliação de integrantes da legenda é que ele já estaria liberado para disputar as eleições.

O empresário Otávio Fakhoury, que foi alvo de busca e apreensão da PF ordenada por Moraes, tornou-se presidente do diretório do PTB de São Paulo no ano passado e chegou a ter o nome citado como possível candidato a deputado federal. Ao GLOBO, Fakhoury afirmou que não pretende se candidatar e vai se dedicar às articulações políticas da legenda.

O PTB também abrigou o produtor rural Antonio Galvan, presidente da Associação de Produtos de Soja e Milho (Aprosoja Brasil), que foi alvo da PF no ano passado por suspeita de financiar atos antidemocráticos no 7 de Setembro. Ele afirma que pretende disputar o posto de senador pelo Mato Grosso e diz que o inquérito no STF não vai atrapalhar sua candidatura.

— Daquela acusação não devo nada, estou muito tranquilo quanto a isso — afirmou.

O blogueiro Oswaldo Eustáquio, que já foi alvo de prisão decretada por Moraes, tentou se filiar ao PTB para se candidatar ao Senado por São Paulo e depois migrou para o PROS mas, ao final, desfiliou-se e desistiu de disputar um cargo eletivo este ano. Ele diz, entretanto, que participará de mobilizações pelo país em prol das candidaturas de nomes conservadores, como Zé Trovão e Daniel Silveira, bem como da reeleição de Bolsonaro.

Após ter passado pouco mais de um mês preso por determinação de Moraes por descumprir ordem de não participar de redes sociais, o jornalista Wellington Macedo se filiou ao PTB e deve se candidatar a deputado federal por São Paulo.

No período em que ficou na cadeia, sua defesa chegou a argumentar que Macedo estava passando por problemas de saúde na prisão, com transtornos psicológicos e dificuldade de se alimentar. Uma vistoria do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos feita para verificar suas condições no Complexo Penitenciário da Papuda recomendou o envio de Macedo para a prisão domiciliar. Ele é investigado no inquérito sobre a organização de atos no 7 de Setembro.

 

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