Justiça
Câmara aprova em 1º turno a PEC da Blindagem a parlamentares
A proposta amplia o foro privilegiado e restringe abertura de processos contra congressistas. Resta a análise em segundo turno


A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno, nesta terça-feira 16, a PEC da Blindagem, que altera a Constituição para dificultar a abertura de processos judiciais contra parlamentares. Foram 353 votos favoráveis, 134 contrários e uma abstenção. Eram necessários pelo menos 308 votos.
Para seguir ao Senado, resta a análise em segundo turno.
A medida retoma, com ajustes, uma regra que vigorou de 1988 a 2001, quando o Congresso tinha de autorizar previamente a abertura de ações contra deputados e senadores. Diferentemente da redação anterior da PEC, apresentada em 2021, o texto chancelado nesta terça exige aval do Legislativo apenas para a abertura de ações penais no Supremo Tribunal Federal – e não mais para a instauração de inquéritos.
Conforme o novo modelo, a Câmara ou o Senado teria até 90 dias para decidir se autoriza a abertura de um processo. As votações, no entanto, seriam secretas, reduzindo a transparência sobre como cada congressista se posiciona.
Além disso, a PEC restringe a prisão de deputados e senadores a casos de crimes inafiançáveis em flagrante e amplia o foro privilegiado para presidentes de partidos políticos com representação no Congresso, que passariam a ser julgados exclusivamente pelo STF.
A aprovação ocorre em um momento de alta tensão política. A medida foi ressuscitada em agosto pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), após um motim da oposição que paralisou a Casa. A troca de relator – com a entrada de Cláudio Cajado (PP-BA), aliado do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) – foi decisiva para destravar as negociações. Lira é apontado nos bastidores como um dos principais articuladores da proposta.
O clima também é influenciado pela recente condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo, que acirrou pressões da base bolsonarista por uma anistia ampla aos condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro.
Agora, a proposta segue para o Senado, onde também precisará do apoio de três quintos dos congressistas (49 votos) em dois turnos. Se aprovada, será promulgada diretamente pelo Congresso, sem possibilidade de veto presidencial.
A aprovação da PEC marca a volta de uma blindagem judicial a parlamentares duas décadas após sua revogação, em um cenário em que mais de 80 inquéritos no STF miram suspeitas de desvios em emendas parlamentares. Críticos apelidaram a medida de “PEC da Impunidade”.
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