Política

Bolsonaro ‘convoca’ panelaço a favor do governo por supostamente não haver corrupção

Com esta mensagem, o ex-capitão encerra um ano marcado pela entrega do coração do governo ao Centrão de Arthur Lira e Ciro Nogueira

Presidente Jair Bolsonaro, durante solenidade de posse do novo ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência
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O presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais nesta sexta-feira 31 em busca de reduzir o impacto do panelaço previsto para esta noite, durante seu pronunciamento em rede nacional de TV e rádio.

“Hoje, dia 31 às 20h30, panelaço da esquerda para protestar contra o Governo Bolsonaro por estarmos, há três anos, sem corrupção”, escreveu Bolsonaro em seus perfis.

Com esta mensagem, o ex-capitão encerra um ano marcado pela entrega do coração do governo ao Centrão. A fim de evitar o avanço de um processo de impeachment, Bolsonaro se utilizou da oferta de cargos importantes na gestão federal e do apoio à distribuição das emendas do orçamento secreto a aliados.

Um dos símbolos do avanço do Centrão é a nomeação, oficializada em agosto, de Ciro Nogueira (PP-PI) como ministro-chefe da Casa Civil.

Em outubro, a Procuradoria-Geral da República reforçou o pedido para que o Supremo Tribunal Federal receba uma denúncia contra Nogueira, acusado de receber 7,3 milhões de reais em vantagens indevidas da Odebrecht. Os procuradores atribuem ao senador os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O Ministério Público Federal diz ter reunido provas que revelam o recebimento de propina em parcelas, entre 2014 e 2015, em Brasília e em São Paulo. Duas entregas de dinheiro teriam sido feitas diretamente a Nogueira e outras 12 pessoas por meio do assessor Lourival Ferreira Nery Junior.

A denúncia contra Nogueira foi apresentada em fevereiro de 2020, quando ele ainda ocupava o cargo de senador.

Em 2021, suspeitas de corrupção no governo marcaram a CPI da Covid, no Senado. A revelação de irregularidades em um contrato para a compra da vacina indiana Covaxin foi um dos episódios mais relevantes dos trabalhos da comissão.

Bolsonaro é alvo de uma investigação da Polícia Federal que apura se ele cometeu o crime de prevaricação no caso Covaxin. A PF abriu o inquérito em 12 de julho, com o objetivo de investigar se o presidente foi informado sobre indícios de fraude na negociação e se tomou medidas para apurar as denúncias.

O crime de prevaricação está descrito no artigo 319 do Código Penal e se caracteriza por “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

Além disso, episódios como um suposto pedido de propina para concretizar a compra de 400 milhões de doses de vacina colocaram em xeque o Ministério da Saúde, repleto de militares.

A CPI recomendou à PGR o indiciamento de Bolsonaro por nove tipos penais. Na relação, há crimes comuns, previstos no Código Penal; crimes de responsabilidade, conforme a Lei de Impeachment; e crimes contra a humanidade, de acordo com o Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional.

Bolsonaro também é alvo de um inquérito que apura possível interferência política e ilegal na PF. A investigação teve início com uma acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. De saída do governo, Moro declarou, em abril do ano passado, que Bolsonaro estava operando mudanças na diretoria da PF para evitar que investigações atingissem seu círculo de alianças.

Filhos de Bolsonaro também estão na mira de investigações. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é alvo de apurações sobre um esquema de “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio, enquanto o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é suspeito de “empregar” funcionários fantasmas na Câmara Municipal do Rio.

As provocações de Jair Bolsonaro nas redes sociais ocorrem em meio a um processo de perda de popularidade. Ele continua a curtir férias no litoral de Santa Catarina, enquanto a Bahia vive uma tragédia humanitária provocada pelas chuvas dos últimos dias.

Nas redes, a popularidade do governo voltou a apresentar tendência de queda nos últimos dias, informa um monitoramento Moldamais/AP Exata divulgado na quinta-feira 30. 53,5% avaliam a gestão como ruim ou péssima, 22,1% como boa ou ótima e 24,5% como regular.

O resultado da postura de Bolsonaro, diz o levantamento, “foi um aumento abrupto das menções negativas ao presidente, que chegaram a ultrapassar os 70% no Twitter”.

“Na guerra de hashtags, #BolsonaroVagabundo abarcou 24,8% do total de tags em posts que mencionam os presidenciáveis no Twitter. #BolsonaroOrgulhoDoBrasil ficou em segundo lugar, com 9,5%”, acrescenta a pesquisa.

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