Política

Bolsonaro confirma envio de mensagem com ‘ordem’ para disparo de fake news: ‘Eu mandei, qual o problema?’

Em resposta curta ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-capitão disse que irá fornecer as devidas explicações para a Polícia Federal no caso

O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Silvio Avila/AFP
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou o teor das mensagens em que pede para o empresário Meyer Nigri, da Tecnisa, para ‘repassar ao máximo’ um texto contendo diversas informações falsas sobre as urnas, pesquisas e com ataques aos ministros do STF e TSE. A confirmação foi dada pelo ex-capitão ao jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira 23.

“Eu mandei para o Meyer, qual o problema? O Barroso tinha falado no exterior [sobre a derrota da proposta do voto impresso na Câmara, em 2021], eu sempre fui um defensor do voto impresso”, afirmou Bolsonaro em uma resposta curta em um avião rumo a São Paulo.

Até aqui, importante frisar, ele ainda não tinha confirmado o teor das conversas. 

A mensagem em questão foi revelada na terça-feira, um contato ‘PR Bolsonaro 8’, agora confirmado ser do ex-capitão, encaminha um texto ao empresário Nigri alegando que a derrota do voto impresso teria sido por interferência do ministro Luís Roberto Barroso, à época ele estava no comando do TSE. Ao final do texto contendo mentiras, Bolsonaro dá a ordem para que o empresário faça um disparo em massa da fake news. O empresário confirma ter cumprido a ordem.

“O ministro Barroso faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o veto impresso ao lado da urna eletrônica, quando ele se reuniu com lideranças partidárias e o Voto Impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERENCIA”, diz um trecho da conversa.

“Todo esse desserviço à Democracia dos 3 ministros do TSE STF faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. O Datafolha infla os números de Lula para dar respaldo ao TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral REPASSE AO MÁXIMO“, conclui o texto.

Bolsonaro foi, após a revelação, intimado a depor à Polícia Federal. Ao jornal, se limitou a dizer que lá fornecerá as explicações sobre as mensagens e a ordem dada ao empresário. Ele se recusou a tratar de qualquer outro tema, como, por exemplo, a venda de joias, pela qual também foi intimado a depor.

A confirmação de que as mensagens obtidas pela Polícia Federal partiram do ex-capitão podem levar Bolsonaro a ser diretamente ligado ao 8 de Janeiro. Isso porque, conforme mostra o site UOL nesta quarta-feira, consta nas conversas com Nigri mensagens que pregam uma ‘guerra civil’ e citam o derramamento de ‘sangue’ por conta dos resultados eleitorais. No texto, Bolsonaro deixa claro que este seria ‘o roteiro’ do pleito do ano passado.

A indicação da PF até aqui é de que o ex-presidente Jair Bolsonaro era a fonte principal das fake news repassadas pela rede de desinformação dos empresários. Nigri, o principal envolvido, nega a existência da rede. Ele diz que apenas divulgava ‘reflexões de cunho pessoal e privado’ para o ‘debate de ideias’.

O caso está em investigação. Na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes determinou que a apuração contra os empresários Meyer Nigri, da Tecnisa, e Luciano Hang, da Havan, seja mantida por mais 60 dias. Bolsonaro deve depor à PF no dia 31 de agosto. Ontem, ao tratar do tema, tinha dito que a conversa com tons golpistas feitas por empresários seriam meros ‘desabafos’.

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