Cultura

Bolsonaro anuncia que quer dar fim à Ancine

Presidente da República voltou a criticar incentivos da agência à produção de filmes brasileiros

Cena de Bruna Surfistinha, filme que incomodou o presidente Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou, nesta quinta-feira 25, que buscará a extinção da Agência Nacional do Cinema (Ancine). A afirmação se deu em transmissão ao vivo em sua rede social.

Bolsonaro fez a declaração após criticar a informação que recebeu, sobre a liberação de 530 mil reais em verbas, pela Ancine, para a produção de um filme sobre ele. O presidente voltou a citar, também o filme “Bruna Surfistinha”, produzido em 2011 e estrelado pela atriz Deborah Secco.

“Semana passada eu critiquei o filme da Bruna Surfistinha, feito com dinheiro público. Critiquei, mas já foi gasto o dinheiro e não temos como voltar atrás. Mas hoje, foi anunciado, olha só como funciona a tal Ancine, né, uma liberação de 530 mil reais para fazer um filme comigo. Olha como os caras são legais, bonzinhos”, disse, em referência ao filme com nome provisório “Nem Tudo Se Desfaz”, dirigido pelo Josias Teófilo.

Em seguida, Bolsonaro afirmou que não praticará censura na produção de filmes brasileiros, mas defendeu o fim do patrocínio estatal a determinadas obras, de acordo com o tema.

“Eu não tenho esse poderio todo sobre a Ancine. Nós temos, lá, cargos que são eletivos. Tem um mandato, eu não posso interferir diretamente na Ancine. E deixo bem claro. Quem, no Brasil, quiser fazer filme com Bruna Surfistinha, seja quem for, fique à vontade. Se fôssemos interferir, seria uma censura. O que não podemos admitir, e não queremos, é esse tipo de filme, ou filmes de política, que talvez até uma pessoa bem intencionada queira fazê-lo, com dinheiro público. Isso aí é inconcebível”, declarou.

Por fim, o presidente evidenciou que a transferência da sede da agência para Brasília é um primeiro passo para a extinção.

“Deixo bem claro. Por decreto, já transferimos a sede do Rio para Brasília. Vai ficar aqui em Brasília, vamos ficar de olho no pessoal. E mais ainda. Depois desse anúncio de fazer um filme com dinheiro público sobre a minha pessoa, a Ancine ganhou mais um ‘fato observado positivo’. Vamos buscar a extinção da Ancine. Não tem nada que o poder público tenha que se meter em fazer filme. Que tenha uma empresa de filme, privada, sem problema nenhum, mas o Estado vai deixar de patrocinar isso aí. Afinal de contas, eu não posso falar nomes de muito filmes patrocinados pela Ancine no passado. Não posso falar porque tem criança assistindo a nossa live“, criticou.

A Ancine foi criada em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, e é composta por nove titulares e nove suplentes. Os integrantes são responsáveis por aprovar diretrizes gerais para o desenvolvimento da indústria audiovisual e estimular a presença do conteúdo brasileiro nos segmentos de mercado.

Em 18 de julho, o presidente da República anunciou a transferência da agência, do Rio para Brasília, e tirou o Conselho Superior do Cinema do Ministério da Cidadania para colocá-lo na Casa Civil. Para justificar a decisão, o presidente criticou o conteúdo do filme “Bruna Surfistinha”, que narra a história de uma garota de programa.

Em resposta nas redes sociais, a atriz Deborah Secco se declarou “chocada” e defendeu a produção do filme. “Fiquei muito triste e um pouco chocada do filme ter sido colocado nesse lugar”, escreveu. “A história retrata uma história real, não só da Bruna, mas de outras mulheres que se encontram nessa situação. Queria muito que nenhuma mulher tivesse que se vender para sobreviver, mas essa não é a realidade do nosso país.”

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