Entrevistas

Barroso foi ‘infeliz’, mas impeachment não cabe em hipótese alguma, diz Eliziane

Em entrevista a CartaCapital, relatora da CPMI do 8 de Janeiro lembrou atos de Bolsonaro fora da liturgia do cargo: ‘A gente não cometer o mesmo erro’

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Relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os atos de 8 de Janeiro, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) classificou como “infeliz” a declaração do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, no evento de abertura do Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Brasília.

Na quarta-feira 12, o magistrado disse que “derrotamos o bolsonarismo” e foi criticado por diversos políticos, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e parlamentares bolsonaristas.

Em entrevista ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube, Eliziane afirmou que o cargo de Barroso demanda “muita cautela ao fazer algumas afirmações, pela interpretação que virá depois”.

Ao mesmo tempo, ponderou que a palavra “bolsonarismo” pode ter sido uma referência a “um movimento ligado à extrema-direita, que tem relação com questões mais fundamentalistas, radicais e que não valoriza os direitos humanos”.

“Eu não sei em qual sentido o ministro Barroso estava fazendo essa colocação quando ele cita o nome ‘bolsonarismo’, mas eu acho que foi uma colocação infeliz, por conta da posição que ele tem”, declarou.

Na sequência, a senadora relembrou críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por não ter, em sua visão, respeitado a liturgia do posto que ocupava.

“A gente criticou muito isso no então presidente Bolsonaro, quando ele ficava totalmente fora dessa liturgia do cargo, quando ele não respeitava a posição que tinha em nível nacional, e a gente não pode sair cometendo esse mesmo erro”, afirmou.

Questionada se a declaração de Barroso pode impactar na CPMI, por supostamente alimentar a narrativa de bolsonaristas sobre perseguição do STF ao ex-presidente, Eliziane avaliou que, caso o tema seja abordado durante os trabalhos da CPMI, será possível “construir algum acordo nesse sentido”. No entanto, a senadora minimizou possíveis efeitos e disse que o ministro não falou como representante do Poder Judiciário.

“Ele é um ministro do Supremo Tribunal Federal, mas ele não está falando em nome do conjunto do Supremo. Acho que foi uma fala individual dele. Não foi uma fala feliz, mas não representa o todo da instituição.”

Sobre o processo de impeachment reivindicado por bolsonaristas contra Barroso, Eliziane afirmou que o debate “não cabe em hipótese nenhuma”.

“O pedido de impeachment de um ministro é uma coisa muito séria. Não dá para você, de repente, pegar uma fala isolada dessa e dizer que você vai apresentar o impeachment de um ministro do Supremo”, opinou. “Não se pode vulgarizar o impeachment. É uma medida extrema.”

CPMI mira financiadores e autoria intelectual

Com a chegada do recesso parlamentar, os trabalhos da CPMI só serão retomados em agosto. O último depoimento foi o de Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro.

Segundo Eliziane, com os documentos recebidos pela Comissão, já foi possível obter “evidências claras” da relação de empresas com o financiamento de mobilizações golpistas.

A relatora disse ter identificado empresas que receberam recursos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, o BNDES, e que podem ter envolvimento direto com o financiamento dos movimentos de extrema-direita.

De acordo com a senadora, empresas chegaram a fazer negociações na ordem de mais de 100 milhões de reais, por meio do BNDES, para a compra de 20 milhões de reais em caminhões. Dez veículos que haviam sido comprados por meio desse esquema foram encontrados nos acampamentos bolsonaristas.

Ela mencionou ainda empresários envolvidos com a invasão do Capitólio.

A CPMI tem questionado o papel executado pela Combat Armor Defense, ligada a um apoiador de Donald Trump, Daniel Beck: a companhia vendeu veículos blindados à Polícia Rodoviária Federal, por meio de licitação, e teve alto enriquecimento em curto período.

“Essa linha dos financiadores está pegando um corpo muito grande”, considerou Eliziane.

Além disso, a CPMI tem apurado a “autoria intelectual” dos atos golpistas, que diz respeito àqueles que planejaram os atos ou contribuíram com a realização deles por meio de conhecimento técnico.

Uma das expectativas da senadora é pela quebra de sigilo de George Washington, envolvido na tentativa de um atentado a bomba em Brasília, em dezembro. Ele trabalhava como gerente de posto de gasolina. Preso, negou à CPMI que tenha instalado material explosivo no caminhão.

Na terça-feira, a Comissão aprovou uma série de requerimentos com quebras de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático. Além de George Washington, são alvos dos requerimentos:

São alvos dos requerimentos aprovados nesta terça:

  • Mauro Cid e oito funcionários do gabinete de Bolsonaro: quebra de sigilos telemáticos do tenente-coronel e mais oito funcionários;
  • Silvinei Vasques: quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático;
  • Jean Lawand Júnior: quebra de sigilos telefônico e telemático.

Assista à íntegra da entrevista de Eliziane Gama no canal de CartaCapital no YouTube:

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