Política

À CPMI, condenado por atentado em Brasília nega ter instalado bomba em caminhão

Gerente de posto de gasolina se negou a responder perguntas em diversos momentos da sessão

George Washington, apontado como responsável por tentativa de atentado em Brasília. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Convocado para oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o 8 de Janeiro, o gerente de posto de gasolina George Washington de Oliveira Sousa negou que tenha implantado uma bomba em um caminhão numa tentativa de atentado em Brasília, mas permaneceu calado perante os parlamentares em vários questionamentos, em sessão nesta quinta-feira 22.

Washington foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão, pela 8ª Vara Criminal de Brasília, por planejar uma explosão na região do Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro.

A Polícia Federal apura que 160 mil reais foram gastos em um arsenal de armamentos. Além de planejar o crime, Washington teria vindo com o material bélico de Santarém, no Pará, em dezembro, e montado o artefato em um caminhão-tanque, no Aeroporto Juscelino Kubistchek.

Por sua vez, o bolsonarista Alan Diego dos Santos Rodrigues, também condenado por envolvimento no crime, teria recebido o armamento em um acampamento no QG do Exército, que ficava perto do aeroporto, e tentado explodir o caminhão com o artefato. O item, porém, falhou e foi desativado antes de explodir.

O crime também teria ainda a participação de um ex-assessor de Damares Alves no ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Trata-se do jornalista Wellington Macedo de Souza, considerado foragido após retirar, de forma ilegal, sua tornozeleira eletrônica.

Ao aprovar a convocação de Washington, a CPMI havia votado requerimentos que tratavam o extremista como testemunha. Durante a sessão, porém, a Mesa decidiu recebê-lo na condição de investigado. Com a decisão, a advogada de Washington afirmou que ele exerceria “o direito constitucional” de permanecer calado.

Entre as informações que ele se negou a prestar, estão:

  • A descrição do arsenal trazido de Santarém;
  • Se foi parado na estrada ao trazer o armamento;
  • Se estava acompanhado;
  • Se a caminhonete era sua;
  • Como conheceu Alan;
  • Se havia algum mandante ou financiador;
  • Qual era o nível de sua frequência aos acampamentos;
  • Por que não dormia nos acampamentos.

A defesa confirmou à reportagem que já havia impetrado um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em que reivindicou o direito de Washington não se pronunciar. A peça foi para a análise do ministro Luiz Fux, mas a decisão não chegou a tempo da sessão.

Entre os poucos momentos em que se pronunciou, Washington negou que tenha implantado uma bomba em um caminhão-tanque, em um tom choroso.

“Há 37 anos, eu trabalho dentro de empresas de caminhão-tanque de petróleo, de combustível naval, e me afastei pouco desse ramo de inflamáveis. Seria uma loucura, uma insanidade da minha cabeça colocar algo que explodisse um caminhão-tanque. Eu acabaria com toda a minha vida”, declarou o homem de 55 anos. “Eu não seria louco de colocar um artefato explosivo em cima de um caminhão, jamais na minha vida.”

Além disso, disse que não conhecia Wellington Macedo.

Em relação ao dia 12 de dezembro, quando houve manifestações violentas da extrema-direita em Brasília, Washington disse que estava em uma churrascaria em Brasília.

Washington também disse que votou em Lula duas vezes, mas não mencionou o voto na última eleição, apesar de ter escrito uma carta de admiração a Bolsonaro, segundo a Polícia.

Ele sustentou que havia “muitos infiltrados” e “ônibus de infiltrados” que teriam sido identificados pelas Forças Armadas no acampamento em que estava mobilizado em Brasília.

No entanto, com a frase “exercerei o direito de permanecer calado”, Washington se negou a responder diversos questionamentos e a confirmar informações da CPMI, como, por exemplo, a de que ele teria chegado a Brasília em 12 de novembro do ano passado.

CPMI já ouviu policiais civis e ex-PRF

Antes do depoimento de George Washington, os parlamentares ouviram três policiais civis que participam da investigação do caso: Leonardo de Castro, Valdir Pires e Renato Carrijo.

Segundo Castro, George Washington disse a Polícia que resolveu ir à Brasília para se unir aos protestos em frente ao Quartel General do Distrito Federal e esperar a ação das Forças Armadas para utilizar armas.

Passado um mês na capital federal, ele teria planejado o crime para provocar uma intervenção nas Forças Armadas. Além disso, Washington teria participado das depredações ocorridas em 12 de dezembro.

Os parlamentares também relembraram que Washington esteve presente no Senado Federal, em uma audiência pública, no dia 30 de novembro, na Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle. A reunião tratava da confiança do processo eleitoral. Alan Diego dos Santos Rodrigues também estava presente.

Para a relatora, os policiais confirmaram que os atos de 8 de janeiro são originários de ações do ano anterior. Os depoimentos da CPMI seguem uma ordem cronológica, que partem do dia da eleição de 2º turno.

Na terça-feira 20, a primeira oitiva foi realizada com o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, suspeito de ter articulado um plano para aumentar as fiscalizações em estradas do Nordeste para impedir eleitores de Lula a chegarem nos seus locais de votação.

O ex-PRF depôs como testemunha, não como investigado, e rebateu números do Ministério da Justiça que sustentam os indícios. O depoimento foi considerado frágil pela base governista, que o acusa de falsear informações, mas houve avaliações de que o depoimento de Vasques teve potencial convincente à população.

Nesta quinta, a relatora acatou um requerimento após o deputado federal Henrique Vieira (PSOL-RJ) contestar os números apresentados pelo ex-PRF, com base em números da corporação. Eliziane Gama encaminhou ao Ministério Público uma notícia-crime contra depoente.

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