Ataque contra Moro poderia acontecer no dia do 2º turno da eleição, indica decisão de juíza

A juíza federal Gabriela Hardt, de Curitiba, foi a responsável por autorizar as prisões executadas no âmbito da Operação Sequaz

O ex-juiz Sergio Moro. Foto: Heuler Andrey/AFP via Getty Images

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A juíza federal Gabriela Hardt, de Curitiba, foi a responsável por autorizar as prisões executadas no âmbito da Operação Sequaz, deflagrada na quarta-feira 22 pela Polícia Federal para desarticular um grupo ligado ao PCC que planejava homicídios e sequestros contra autoridades e servidores públicos. Um dos alvos seria o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR).

Ao longo de 71 páginas, Hardt detalhou a investigação da PF sobre os planos da quadrilha. Segundo o documento, uma testemunha protegida relatou o reconhecimento do local onde Moro votaria no segundo turno da eleição presidencial de 2022.

“Em busca realizada na internet, verificou-se que o ‘Clube Duque de Caxias’ realmente foi o local de votação do senador Sérgio Moro, restando claro que foi cogitada alguma ação contra ele na data do segundo turno da eleição presidencial de 2022”, diz a magistrada em um trecho do despacho.

De acordo com a investigação, a quadrilha usava códigos para planejar a ação contra Moro. Em mensagens trocadas entre os criminosos, o ex-juiz era chamado de Tóquio.

Na mira dos investigadores estava, especialmente, Janeferson Aparecido Mariano, conhecido por uma série de codinomes, a exemplo de Nefo, NF, Artur e Dodge. Ele seria o chefe da “Restrita”, setor do PCC responsável por matar ex-faccionados e praticar atos criminosos contra autoridades e agentes públicos.

Em um trecho da decisão, Hardt escreve que “as provas colhidas indicam que atos criminosos estão efetivamente em andamento na Cidade de Curitiba/PR há pelo menos seis meses, contando com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades do senador Sergio Moro”.


A deflagração da operação só ocorreu, porém, após a posse do presidente Lula (PT). Na quarta 22, horas após o início da Sequaz, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, repudiou tentativas de politizar as investigações e afirmou que a apuração foi “tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo”.

Nesta quinta, Lula sugeriu que o plano do PCC poderia ser uma “armação” de Moro. A declaração foi concedida durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro.

“Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Eu vou descobrir o que aconteceu, porque é visível que é uma armação do Moro”, disse o presidente. “Eu vou pesquisar e saber o porquê da sentença. Parece que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele. Mas isso a gente vai esperar.”

Gabriela Hardt substituiu Sergio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba quando o ex-juiz aceitou o convite do então presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Alinhados na condução de processos da Lava Jato, os dois magistrados mantinham proximidade com os membros da força-tarefa em Curitiba, como demonstrou a série de reportagens conhecida como Vaza Jato.

Em um dos diálogos dos procuradores, revelado por CartaCapital em 2021, o então chefe da força-tarefa Deltan Dallagnol relatou as colegas: “Sem pressão, Gabriela disse sobre as denúncias ‘poxa, nao chegou nenhuma ainda…’. Expliquei que estamos trabalhando intensamente e prometi avisar qdo protocoladas”.

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