Política

Análise: Prisão de Crivella traz prejuízos a Bolsonaro, mas não imediatamente

O professor de Ciência Política da PUC, Ricardo Ismael, também aponta maior protagonismo do Ministério Público Estadual no contexto local

O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos). Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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A prisão do prefeito Marcelo Crivella por suposto envolvimento em um “QG da Propina” na prefeitura do Rio de Janeiro tem impactos políticos negativos não só na trajetória do líder evangélico, como também no projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022. A análise é de Ricardo Ismael, professor em Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

“Embora o Crivella tenha perdido a reeleição, chegou ao segundo turno. Teria condições de pleitear um cargo em 2022 para deputado federal ou até ao Senado Federal, onde ele já esteve, avalia. Crivella foi eleito senador pelo PL em 2003 e reeleito pelo Republicanos em 2012, se licenciou para concorrer e assumir a prefeitura do Rio.

O envolvimento em um caso de corrupção também tende a arranhar a imagem do prefeito frente a seu eleitorado mais fiel, os evangélicos.”O Crivella é a principal liderança evangélica não só da cidade, mas do estado do Rio de Janeiro.”

Embora a gestão de Crivella tenha sido criticada por um suposto favorecimento às igrejas, e o eleitorado evangélico, avalia, a prisão por acusações de corrupção (embora não sejam novas) podem causar certa ‘surpresa’ nessa parcela dos cariocas.

E completa: “Isso soma ao foto do Rio de Janeiro aparecer sistematicamente na mídia com algum caso de corrupção e prisão de algum eleito ao cargo no Executivo, governadores [Wilson Witzel, Sérgio Cabral, Luis Fernando Pezão, Anthony Garotinho e Rosinha Matheus] e agora prefeito.

“Sem dúvida, Crivella entra em um hall indesejável. Terá sobre a sua biografia uma suspeita de corrupção, e isso traz um impacto junto ao eleitorado, inclusive o evangélico, que ainda mantem um apreço a ele. Ao perder as eleições, ele foi mais bem votado nas zonas norte e oeste, onde há maior presença desse eleitorado. Como disse, isso pode prejudicá-lo em 2022″.

Para Ismael é possível que a repercussão negativa se projete sobre o projeto de reeleição de Bolsonaro em 2022. “Evidente que o Crivella o apoiaria nessa tentativa de reeleição, justamente porque é uma das principais lideranças evangélicas no estado, então isso pode virar prejuízo eleitoral”, atesta.

Ainda assim, o professor não vê prejuízos imediatos ao presidente, ainda que ele seja declaradamente um apoiador político do prefeito.

“Até agora, essa é uma questão localizada na Prefeitura e nas possíveis relações entre o prefeito e seus auxiliares. Não chegaria diretamente ao presidente. Evidente que o que se poderia dizer é que no ano passado houve uma decisão da Família Bolsonaro, em particular do Carlos Bolsonaro, de ingressar no Republicanos, partido de Crivella. Ele entrou no partido, fez campanha para o Crivella, assim como o próprio Bolsonaro, mas eu diria que essa questão é mais localizada na Prefeitura, até o momento”, observou.

Em relação aos desdobramentos políticos do caso, Ismael destaca a atuação do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro e indica uma trajetória política mais ativa do órgão para os próximos anos. “Isso vem sendo observado a partir de 2014, com a Lava Jato, e acredito que podemos esperar ainda mais protagonismo nos próximos anos.”

Entenda a prisão de Crivella

Marcelo Crivella foi preso na manhã desta terça-feira 22 em uma ação da Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro.Trata-se de um desdobramento da Operação Hades, que investiga um suposto ‘QG da Propina’ na Prefeitura do Rio.

“Foi o governo que mais atuou contra a corrupção”, declarou Crivella, ao chegar à Cidade da Polícia, no bairro do Jacarezinho, na zona norte do Rio, em rápida coletiva, pouco após as 6h30. Ele atribuiu a prisão a suposta “perseguição política” e disse esperar “justiça”.

Também foram presos o delegado aposentado Fernando Moraes e o empresário Rafael Alves, irmão de Marcelo Alves, ex-presidente da Riotur.

Rafael Alves é apontado como um dos operadores do esquema. Embora não tivesse cargo na Prefeitura, Alves dava expediente da Cidade das Artes e se tornou, segundo as investigações, homem de confiança de Crivella, ajudando-o a viabilizar a doação de recursos na campanha de 2016.A investigação começou em 2018, e tem como base a delação do doleiro Sergio Mizrahy, preso pela Operação Câmbio, Desligo.

Na eleição do mês passado, Crivella perdeu no segundo turno por 64% a 36% para o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).

Na campanha pela reeleição, sobretudo no segundo turno, Crivella teve no combate à corrupção uma de suas bandeiras prioritárias. Ele reafirmava que seu adversário Eduardo Paes (DEM), que o derrotou, iria para a cadeia, por corrupção durante seus dois mandatos na prefeitura, de 2009 a 2016.

Com o afastamento de Crivella, o primeiro na linha sucessória é o presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felippe (DEM), uma vez que o vice na chapa vencedora em 2016, Fernando Mac Dowell, faleceu em 2018 vítima de um enfarte.

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