Justiça

AGU pede que TCU reveja decisão que abre brecha para Bolsonaro no escândalo das joias

O braço jurídico do governo vê violação ao interesse público e afronta aos princípios da razoabilidade e da moralidade administrativa

AGU pede que TCU reveja decisão que abre brecha para Bolsonaro no escândalo das joias
AGU pede que TCU reveja decisão que abre brecha para Bolsonaro no escândalo das joias
Foto: Mauro Pimentel/AFP
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Braço jurídico do governo federal, a Advocacia-Geral da União pediu ao Tribunal de Contas da União que reveja o entendimento adotado no julgamento do caso que livrou o presidente Lula (PT) de devolver um relógio recebido há duas décadas e, ao mesmo tempo, abriu caminho para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no escândalo das joias sauditas.

O recurso foi encaminhado ao TCU na última sexta-feira 6. No documento, o órgão afirma que a decisão do tribunal “viola o interesse público, afronta os princípios da razoabilidade e da moralidade administrativa e causa danos ao patrimônio cultural” da União.

Além disso, está “em desacordo com o arcabouço normativo que rege a administração pública a partir da Constituição de 1988, além de violar, em específico, o interesse público na preservação dos bens da União”.

Com o pedido, a AGU busca manter de pé a regra estabelecida pelo próprio TCU em 2016, segundo a qual o presidente da República só pode levar consigo, após deixar o cargo, itens considerados “personalíssimos” – de uso pessoal e baixo valor. Esse entendimento foi modificado no início de agosto, em movimentação liderada pela ala “bolsonarista” do tribunal.

Na ocasião, prevaleceu a tese do ministro Jorge Oliveira, que entendeu não ser possível determinar a devolução de presentes em razão da falta de regra clara para o tratamento dos itens recebidos durante o exercício do mandato. Ou seja: até o Congresso editar uma lei, o ex-ocupante do Palácio do Planalto poderia ficar com os presentes, independentemente do valor.

Quando ocorreu o julgamento sobre os itens recebidos por presidentes no exercício do mandato em 2016, o TCU deliberou que os presentes entregues por autoridades estrangeiras deveriam ser incorporados ao patrimônio público – a norma excluiu apenas os objetos “personalíssimos” ou de consumo próprio.

A Polícia Federal acusa Bolsonaro de integrar uma organização criminosa montada no Palácio do Planalto para desviar presentes de luxo recebidos sob sua gestão e vendê-los no exterior. Os recursos obtidos nas negociações retornavam ao patrimônio dele e serviram para custear sua estadia nos Estados Unidos, de acordo com as investigações.

O ex-capitão foi enquadrado em associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato (quando um agente se apropria indevidamente de bens públicos), cujas penas, somadas, podem chegar a 25 anos de prisão. Bolsonaro nega as acusações.

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