Política

A reação do MDB após Lula chamar Temer de golpista

Emedebistas da direção nacional do partido avaliam que as declarações são ‘desnecessárias’ neste momento de início de governo

Temer e Lula em 2014. Foto: Ricardo Stuckert
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Integrantes da direção nacional do MDB avaliam que as declarações do presidente Lula (PT) sobre o ex-presidente Michel Temer (MDB) são “equivocadas” e “desnecessárias” neste momento de início de governo.

Durante agenda no Uruguai, na quarta-feira 25, o petista chamou Temer de golpista pelo processo que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

“O Brasil não tinha mais fome quando deixei a Presidência e hoje temos 33 milhões de pessoas passando fome. Isso significa que tudo que fiz de política social durante 13 anos de governo foi destruído em sete anos. Três do golpista Michel Temer e quatro do governo Bolsonaro. Por isso o tema do meu governo é ‘União e Reconstrução’”, declarou o presidente em Montevidéu.

A reação do emedebista foi imediata. Em nota, Temer acusou Lula de “insistir em manter os pés no palanque e os olhos no retrovisor, agora tentando reescrever a história por meio de narrativas ideológicas”.

O ex-presidente ainda alegou que o País “não foi vítima de golpe algum” e que Dilma teria “infringido a Constituição”. Também “recomendou” que Lula “governe olhando para a frente, defendendo a verdade, praticando a harmonia e pregando a paz”.

Dirigentes do MDB com quem CartaCapital conversou dizem que as declarações são “totalmente desnecessárias e não combinam com a inteligência do Lula manter a discussão do impeachment como golpe”.

“O rei das bravatas e frases equivocadas sempre foi Bolsonaro e não Lula”, disse à reportagem um integrante do diretório nacional do partido em caráter reservado. “O STF que anulou o processo contra ele é o mesmo tribunal que julgou o impeachment constitucional”.

Durante a campanha eleitoral de 2022, Lula buscou o apoio do MDB desde o primeiro turno. A avaliação de emedebistas, no entanto, era que a manutenção da candidatura de Simone Tebet impedia que antipetistas do partido ficassem ao lado de Bolsonaro. Tebet, hoje ministra do Planejamento, apoiou o petista na segunda etapa do pleito.

Os dirigentes do MDB consideram que as rusgas entre os partidos começou a ser superada quando o presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, foi candidato à presidência da Câmara dos Deputados em 2021. Derrotado por Arthur Lira (PP-AL), o emedebista contou com apoio da bancada do PT na Casa.

Hoje na base de sustentação do governo no Congresso, o MDB comanda três ministérios: Cidades, com Jader Filho, Planejamento, com Tebet, e Transportes com Renan Filho.

Internamente, os emedebistas admitem que as declarações de Lula não são capazes de afastar o partido do governo. Lembram, ainda, que aliados atuais do petista foram favoráveis ao afastamento de Dilma em 2016.

“O [Rodrigo] Pacheco à época votou a favor do impeachment. O Lira também. O [José] Múcio presidia o TCU quando o tribunal afirmou que houve pedaladas fiscais e, portanto, crime de responsabildiade”, recorda um dirigente. “Renan [Calheiros], Eunicio [Oliveira], Jader [Barbalho], Simone [Tebet] e Daniela do Vaguinho são apoiadores ou membros do governo e votaram a favor do impeachment”.

Incomodou também o fato de Lula ter feito as declarações fora do País. “O mal estar fala por si”, acrescenta a fonte. “Ele não falou sobre o impeachment no sindicato dos Metalúrgicos ou num debate na TV e sim diante de chefes de Estados vizinhos”.

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