Economia

A irritação de Lula com o Banco Central tem fundamento, diz Mantega

‘Acho que é arrogância do Banco Central dizer ‘se você não fizer a política fiscal que acho adequada, vou manter os juros altos’, afirmou o ex-ministro

O ex-ministro Guido Mantega. Foto: José Cruz/Agência Brasil
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O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que o Banco Central tem pressionado o governo federal para impor uma política fiscal arrochada, contrária ao que pretende o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula (PT). 

Questionado sobre o relatório controverso apresentado pelo Copom que reafirma a necessidade de manter a taxa de juros alta pela incerteza da nova política fiscal, Mantega criticou o BC. 

“Acho que é arrogância do Banco Central dizer ‘se você não fizer a política fiscal que acho adequada, vou manter os juros altos”, afirmou o ex-ministro

O texto divulgado pelo Comitê destacou que a “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais que implicam sustentação da demanda” obrigam a instituição a manter os juros em 13,75% por mais tempo.

“No comunicado, o Banco Central falou de forma agressiva. Ele é que está agredindo e ameaçando. Ele está querendo fazer política fiscal. A função do Banco Central é cuidar da política monetária”, completou. 

O ex-ministro ainda defendeu a postura do presidente, que se irritou com a imposição do BC. 

“A irritação tem fundamento. Lula sempre foi sensato. Perdeu as estribeiras porque ficou nervoso com a situação. Ele está vendo onde vai dar”, afirmou. 

Segundo Mantega, a política monetária praticada não é condizente com o compromisso estabelecido por Lula na campanha eleitoral que prioriza o crescimento nacional, a distribuição de renda e o aumento dos investimentos e dos lucros. 

“E as contas do setor financeiro estão erradas e criaram a expectativa autorrealizada de que os juros futuros vão subir. E subiram. Estão fazendo uma espécie de terrorismo. O Banco Central está sintonizado com o mercado financeiro, que está forçando uma situação”, disse o ex-ministro. 

Para ele, o mercado está supondo que o governo será “gastador”. “Na verdade, está fazendo uma chantagem para obrigar o governo a fazer a regra fiscal que ele quer. Quer substituir o teto de gasto por outra regra parecida com o teto. Tem esse braço de ferro também”, afirmou. 

Guido ainda afirma que Lula não é contra a independência do Banco Central, mas defende a necessidade de uma sintonização entre o órgão e o governo federal, “para não ficar uma coisa sem pé, nem cabeça”. 

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