Economia
A irritação de Lula com o Banco Central tem fundamento, diz Mantega
‘Acho que é arrogância do Banco Central dizer ‘se você não fizer a política fiscal que acho adequada, vou manter os juros altos’, afirmou o ex-ministro
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que o Banco Central tem pressionado o governo federal para impor uma política fiscal arrochada, contrária ao que pretende o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula (PT).
Questionado sobre o relatório controverso apresentado pelo Copom que reafirma a necessidade de manter a taxa de juros alta pela incerteza da nova política fiscal, Mantega criticou o BC.
“Acho que é arrogância do Banco Central dizer ‘se você não fizer a política fiscal que acho adequada, vou manter os juros altos”, afirmou o ex-ministro
O texto divulgado pelo Comitê destacou que a “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais que implicam sustentação da demanda” obrigam a instituição a manter os juros em 13,75% por mais tempo.
“No comunicado, o Banco Central falou de forma agressiva. Ele é que está agredindo e ameaçando. Ele está querendo fazer política fiscal. A função do Banco Central é cuidar da política monetária”, completou.
O ex-ministro ainda defendeu a postura do presidente, que se irritou com a imposição do BC.
“A irritação tem fundamento. Lula sempre foi sensato. Perdeu as estribeiras porque ficou nervoso com a situação. Ele está vendo onde vai dar”, afirmou.
Segundo Mantega, a política monetária praticada não é condizente com o compromisso estabelecido por Lula na campanha eleitoral que prioriza o crescimento nacional, a distribuição de renda e o aumento dos investimentos e dos lucros.
“E as contas do setor financeiro estão erradas e criaram a expectativa autorrealizada de que os juros futuros vão subir. E subiram. Estão fazendo uma espécie de terrorismo. O Banco Central está sintonizado com o mercado financeiro, que está forçando uma situação”, disse o ex-ministro.
Para ele, o mercado está supondo que o governo será “gastador”. “Na verdade, está fazendo uma chantagem para obrigar o governo a fazer a regra fiscal que ele quer. Quer substituir o teto de gasto por outra regra parecida com o teto. Tem esse braço de ferro também”, afirmou.
Guido ainda afirma que Lula não é contra a independência do Banco Central, mas defende a necessidade de uma sintonização entre o órgão e o governo federal, “para não ficar uma coisa sem pé, nem cabeça”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.