Política
‘A gente pede a Deus que não ocorra mais’, diz Bolsonaro em Petrópolis
Presidente se ateve a listar a sequência de contatos com ministros que fez desde que soube da tragédia


O presidente Jair Bolsonaro (PL), em conversa com jornalistas após sobrevoar Petrópolis nesta sexta-feira 18, afirmou que, entre suas ações para conter tragédias na região, estaria ‘pedir a Deus para que elas não ocorram mais’. O ex-capitão não detalhou planos para impedir que a região volte a sofrer com novos deslizamentos.
“Por muitas vezes não temos como nos precaver de tudo que possa acontecer nesses 8,5 milhões km². Então a população, logicamente, tem razão em criticar, mas aqui é uma região bastante acidentada e infelizmente já tivemos outras tragédias aqui. A gente pede a Deus que não ocorram mais, mas vamos fazer a nossa parte”, disse Bolsonaro sem listar os planos do governo para impedir novos deslizamentos na região.
“Medidas preventivas são votadas no orçamento na época certa e medidas emergenciais são diferentes, como estamos fazendo aqui agora”, acrescentou em seguida sem, novamente, listar o que foi ou será feito pela sua gestão.
Em Petrópolis já morreram 122 pessoas após as chuvas de terça-feira. Mais de 100 estariam ainda desaparecidas. A cidade também sofreu com deslizamentos em 2011. Há pelo menos 3 anos, o governo local tem conhecimento de 15 mil imóveis situados em área de risco. Ainda assim, o poder público não tomou ações para impedir novas tragédias. A omissão é duramente criticada por especialistas.
Na coletiva, Bolsonaro se ateve a listar a sequência de contatos que fez com ministros e outros integrantes do governo, ainda na Rússia, após receber a notícia do temporal no Rio de Janeiro. Em seguida, passou a palavra para o governador Cláudio Castro e para os ministros Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional; João Roma, da Cidadania, e Walter Braga Netto, da Defesa. Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Rodoviária Federal também tiveram a palavra.
Em todos os casos, os políticos e técnicos listaram as ações emergenciais tomadas por suas respectivas áreas. Marinho afirmou que mais de 2 bilhões já foram liberados desde novembro pelo governo federal para minimizar os estragos das chuvas. As verbas foram divididas entre os estados mais afetados. O ministro não deixou claro quanto foi destinado especificamente para Petrópolis. Roma se ateve a dizer que sua pasta está socorrendo os desabrigados e Braga Neto tratou da participação dos militares nas buscas e atendimentos às vítimas.
Castro usou a maior parte da sua breve participação para rebater críticas da imprensa de que há pouco efetivo para atender a região.
“Não adianta ter gente demais aqui. A imprensa tem cobrado muito que tenham muitas pessoas, mas há um problema sério de trânsito, do local instável. Então, não adianta botar duas, três ou quatro mil pessoas como parecem querer, isso quem manda é a técnica, é o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil”, argumentou o governador.
Na conversa, Bolsonaro voltou a falar da Rússia e a insinuar que o recuo das tropas alocadas na fronteira com a Ucrânia estaria ligado à sua chegada ao país. A desmobilização militar anunciada por Vladimir Putin, desacreditada por países ocidentais e pela Otan, no entanto, não tem qualquer relação com o presidente brasileiro.
Sobre sua ida à Rússia, o presidente ainda celebrou acordos comerciais na área de fertilizantes e petróleo. Segundo relatou, empresários russos se comprometeram a comprar uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. A fábrica de fertilizantes ligada à Petrobras foi alvo de recente transmissão ao vivo do presidente, que acusou o PT de promover um desvio de 3,2 bilhões de reais no local. A live ocorreu poucos dias antes de embarcar para a Rússia.
Para tentar minimizar o impacto negativo de sua declaração de ‘solidariedade’ à Rússia, Bolsonaro disse que seus agradecimentos públicos foram por Putin sempre defender a soberania do Brasil na Amazônia. O ato do presidente em meio às tensões na região foi lido negativamente pelos Estados Unidos e outros países aliados.
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