Luciana Santos

Vice-governadora de Pernambuco e presidenta nacional do PCdoB

Opinião

assine e leia

PCdoB completa 100 anos e se une às forças prontas a combater o retrocesso

Para liderar esse projeto, decidimos apoiar a construção da candidatura presidencial de Lula

PCdoB completa 100 anos e se une às forças prontas a combater o retrocesso
PCdoB completa 100 anos e se une às forças prontas a combater o retrocesso
O início. A primeira reunião do partido, em 1922, aconteceu em Niterói. Em um século, a legenda só experimentou 37 anos de legalidade - Imagem: Arquivo/PCdoB
Apoie Siga-nos no

No último 25 de março, dia em que o PCdoB completou 100 anos, uma multidão reuniu-se em Niterói para celebrar essa história de coragem e amor pelo Brasil e as potências do povo brasileiro. No Festival Vermelho, evento amplo, leve e politizado, com a cara da nossa gente, defendemos um movimento de unidade para vencer o retrocesso e reerguer o País. Um encontro para “Florescer a Esperança”, articulando política e cultura, pilares para a construção do amanhã que queremos.

Foi a ousadia da classe operária que fundou o Partido Comunista do Brasil. Nascemos no ano em que se comemoravam os 100 anos da Independência, respirando os ares que inspiraram a Semana de Arte Moderna de 1922. Os pioneiros dessa iniciativa, influenciados pela Revolução Russa de 1917, dedicaram-se a estudar a realidade brasileira, à luz do marxismo-leninismo, e deram ao Partido Comunista do Brasil consistência ideológica e política. Inseridos no leito da rebeldia contra o regime oligárquico da República Velha e das aspirações por um país democrático, os comunistas assumiram a condução das lutas populares, indicando o horizonte socialista.

Embora tenhamos vivido sob intensa perseguição – dos nossos cem anos, apenas 37 foram exercidos na legalidade –, é difícil localizar, hoje, um momento emblemático da história do Brasil que não tenha a contribuição dos comunistas no combate ao nazifascismo, na resistência ao Estado Novo, na criação e fortalecimento das entidades populares, na defesa da liberdade­ de culto religioso, na campanha do “Petróleo É Nosso”, pela nossa soberania, na luta pela paz, pela terra, em defesa dos trabalhadores, da democracia e da cultura.

Com ousadia e maturidade, realizamos, em 18 de fevereiro de 1962, a reorganização do nosso partido. Após um período de grandes embates teóricos, políticos e ideológicos, revigoramos as nossas convicções revolucionárias e seguimos adiante. Revitalizamos a nossa capacidade de interação com a realidade do País, sobretudo após o golpe de 1964. Ali, a combinação de combates, nas cidades e no campo, evoluiu para a concentração de forças na Guerrilha do Araguaia.

Os heróis e heroínas do Araguaia devem ser reverenciados por sua bravura e fidelidade à missão histórica de transformar o Brasil. Seu legado se soma ao de outros tantos que combateram diversos períodos de autoritarismo. O partido pagou um elevado tributo em vidas e sacrifícios, sobretudo no enfrentamento à ditadura. Mas nunca, nunca abaixou a bandeira da democracia.

Com a anistia, a volta dos exilados – entre eles os dirigentes do PCdoB João Amazonas e Renato Rabelo – deu novo impulso ao combate à ditadura. A retomada das greves como uma avalanche de indignação e protestos também sinalizava o fim daquele regime. Amazonas teve enorme papel na reorganização do partido e nos esforços pela redemocratização, com as Diretas Já e o movimento pró-Tancredo Neves. Nesse período, o PCdoB cresceu e ampliou a sua presença nas organizações de juventude, estudantes, negros, mulheres, trabalhadores e movimentos sociais. Em 1989, Amazonas foi um ardoroso defensor da unidade das forças progressistas e um dos artífices da Frente Brasil Popular, encabeçada por Lula. Se não houve ali logo a vitória, lançaram-se as sementes para o futuro.

O partido pagou elevado tributo em vidas e sacrifícios, mas nunca abaixou a bandeira da democracia

Tivemos pulso firme no enfrentamento ao neoliberalismo de Fernando Collor e, sob a liderança de Renato Rabelo, compusemos a ampla frente que elegeu ­Lula-José Alencar. O PCdoB, ao apoiar Lula em todas as campanhas e ao oferecer ideias programáticas e táticas que se revelaram indispensáveis, deu contribuições relevantes à histórica vitória das forças progressistas, bem como aos governos de Lula e Dilma, ocupando, inclusive, ministérios e agências e colaborando com o projeto popular também no Parlamento. É notório, ainda, que o partido lutou tenazmente contra o golpe que depôs Dilma.

Nas lutas contra as imposições antidemocráticas da legislação, que instituiu a Cláusula de Barreira, nos somamos aos aguerridos camaradas do Partido Pátria Livre, que agora integram a nossa legenda. Enfrentamos com bravura o governo ilegítimo de Michel Temer, que pavimentou o caminho à vitória da extrema-direita nas eleições, resultando no nefasto governo de cunho neofascista de Jair Bolsonaro, que seguimos a combater dia após dia.

Contra a barbárie, apresentamos os nossos melhores quadros, que assumem a cada momento mais protagonismo. Basta olhar para Manuela d’Ávila, por exemplo, ou para a nossa bancada, que é gigante, a despeito de ser formada apenas por oito deputados. No ­atual ambiente autoritário, o PCdoB esteve na linha de frente pela garantia de direitos para o povo e fez grande esforço para a aprovação da Lei das Federações, que se concretizou como uma inovação democrática que aperfeiçoa e enriquece os sistemas político e partidário. É mais um importante legado dos comunistas.

O Festival Vermelho deu mostras do respeito que o PCdoB conquistou, seja entre outras legendas, seja entre artistas e no seio da sociedade. Somos um partido que atrai muitos jovens, com enorme protagonismo de mulheres e negros. Hoje, estamos empenhados, com os movimentos de frente ampla, na tarefa de libertar o ­País do governo Bolsonaro, de restaurar a democracia e promover uma reconstrução nacional que abra perspectivas a um novo ciclo de prosperidade, desenvolvimento soberano em harmonia com a proteção do meio ambiente e de progresso social.

Para liderar esse projeto, decidimos apoiar a construção da candidatura presidencial do ex-presidente Lula e estamos concretizando uma federação partidária ao lado do PT e do PV. Mantemos o empenho para que dela participem também o PSB e outras legendas progressistas.

Orgulhamo-nos de nossa saga heroica e realizadora, de lutas, agruras e colheitas. Em cem anos, adquirimos a têmpera de aço de que falava o nosso grande camarada Haroldo Lima, e nos qualificamos para travar as lutas duras, mas promissoras, do presente. E construiremos juntos o amanhã da justiça social e da liberdade. •


*Presidente nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1202 DE CARTACAPITAL, EM 6 DE ABRIL DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Cem anos de amor e coragem”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo