Opinião
Os tomates e os gorjeios dos propagadores do ódio
Produzir o fruto é tarefa árdua que nunca deveria ser estigmatizada como vilã
Dia 2 de fevereiro, dia de festa no mar. Eu quero ser o primeiro a saudar Iemanjá”.
Nesse dia, deste ano, um sábado, enquanto muitos cantavam e praticavam o proposto por Dorival Caymmi, o agrônomo pela Esalq Edvaldo Fukuchi, sediado em Boituva/SP, me escrevia assim: “Quando a gente pensa que essa cena jamais se repetirá é novamente, mais uma vez, o produtor quem sofre. Muito calor, concentração de colheita, inviabilizou o comércio de tomates. Em janeiro, tomate maduro era comercializado a 5 reais a caixa no Ceagesp”.
Seguia um vídeo, com uma caçamba de 20 toneladas de tomates sendo jogadas fora. De sua locução, colho algumas frases: “safra 2019, jogando tomatinho fora, ninguém quer tomate, ói só … pecado, tomatinho indo tudo embora … nem pra massa o povo quer”.
Era a tristeza, decepção, de quem estudou, trabalha e luta pela produção agrícola, quando sem mercado e qualquer apoio estatal.
Em 22 de abril, pós- Páscoa, segundo o Cepea/Esalq/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) dava os preços da caixa de 20kg do tomate italiano 3-A, no Ceagesp, cotada no atacado entre 70 reais e 107 reais, conforme a qualidade.
Sem dúvida um incremento brutal para o consumidor comparado à baba do início do ano. Vale dizer, antes deixavam de plantar ou morriam os produtores, hoje, deixam de comprar, mas não morrem os consumidores.
A não ser que os últimos, altamente sensíveis ao noticiário em folhas e telas cotidianas, principalmente, da TV Globo e do Jornal Nacional, suicidem. Sem qualquer critério mais profundo de análise, passam a ver como “vilões da inflação” alimentos “bola da vez”. O tomate, agora.
Fruto da família das Solanáceas, tem origem asteca. Conta-se que nos anos 500 A.C começou a ser plantado no sul do México. A colonização espanhola no século 16 o levou para a Europa, sendo que no 17 invadiu a cultura culinária italiana, em diversos formatos e finalidades de uso.
Hoje em dia, no Brasil, são cultivadas quase 20 variedades do fruto, com predominância na região Sudeste e no estado de Goiás, em área aproximada de 65 mil hectares.
Seu plantio é feito, na maioria, em formato de estaqueio e a colheita é manual. Muito afeito a pragas e doenças, recebe altas doses de agrotóxicos, nem sempre necessárias se tiverem recebido nutrição adequada.
A produção brasileira de tomates, em 2017, alcançou 4,5 milhões de toneladas. Isto faz o Brasil estar entre os 10 maiores produtores mundiais. China e EUA lideram.
Na culinária brasileira, o fruto se espalhou por todos os cardápios. Grande parte trazida pelos imigrantes europeus, principalmente italianos, espanhóis e portugueses. Mas se você já foi à Bahia, poderá saboreá-lo em vários pratos típicos.
Produzir tomates é tarefa árdua que nunca deveria ser estigmatizada como vilã. É uma afronta a quem está na atividade quando quem está com o traseiro no rentismo da Avenida Paulista não o é.
Requer cuidados durante todo o seu ciclo até que as condições climáticas e o estado da economia confirmem se o produtor continuará na atividade ou será considerado vilão da inflação pelos imbecis do óbvio, que gorjeiam nas folhas, telas e redes sociais cotidianas.
Como este País está bobo. Inté.
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