

Opinião
O enforcamento de Alexandre de Moraes e o 8 de Janeiro
É constrangedor e inquietante ouvir a sua declaração sobre uma hipótese tão bárbara. E o ministro tem, é evidente, conhecimento do que ocorreu


“É preciso que haja algum respeito, ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadadas” – Torquato Neto, poema do Aviso Final
Muito impactante a entrevista do ministro Alexandre de Moraes dizendo que teve informação de que os golpistas tinham como uma das opções, após o 8 de Janeiro, enforcá-lo na Praça dos Três Poderes. Por mais que imaginássemos a possibilidade da extrema violência, representada pela destruição do plenário da Suprema Corte, é constrangedor e inquietante ouvir a sua fala sobre uma hipótese tão bárbara. E ele tem, é evidente, conhecimento do que realmente ocorreu.
Há pouco tempo, fui procurado por um cidadão, ex-sócio da família Bolsonaro, que disse ter participado de algumas reuniões nas quais os bolsonaristas, chefes da milícia, discutiam quem iriam matar quando consolidassem o poder fascista. Segundo me garantiu essa pessoa, eu também seria morto e com requintes de crueldade.
É importante uma reflexão da sociedade como um todo acerca da importância dos inquéritos e processos sobre o 8 de Janeiro. Muitos ainda insistem em considerar que a reação do Judiciário foi excessiva. Vale ressaltar que a ocupação das sedes dos Poderes era, sem dúvida, a preparação para o golpe que se anunciava cruel.
O ministro Toffoli foi visionário quando teve coragem de instaurar as investigações contra as fake news e determinou a distribuição para a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Estou em Paris, porém pretendo voltar para estar em Brasília no dia 8 de Janeiro, o dia da infâmia, mas também da libertação. Resistimos e vencemos. A Democracia ganhou. É bom que ocupemos todos os espaços democráticos contra a barbárie. E vamos acompanhar os processos. Não é correto responsabilizar e punir somente quem fez a linha de frente. Quem planejou nossa morte, tramou contra a Democracia e ultrajou a Constituição tem de ser responsabilizado.
Recorro-me, novamente, ao mestre Torquato Neto, no poema Marginália II:
“Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição
Eu, brasileiro, confesso.”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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