Luana Tolentino

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Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. É autora dos livros 'Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula' (Mazza Edições) e 'Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil' (Papirus 7 Mares).

Opinião

Nestas eleições, vote em mulheres negras comprometidas com a democracia

Como pontuou a educadora Macaé Evaristo em entrevista concedida recentemente a CartaCapital, nestas eleições, estamos diante de um verdadeiro plebiscito. Há apenas dois caminhos: a democracia ou a barbárie

Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, 2015, em Brasília - Foto: Marcello Casal Jr/ABR
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Conforme pontuou a educadora Macaé Evaristo em entrevista concedida recentemente a CartaCapital, nestas eleições, estamos diante de um verdadeiro plebiscito. Há apenas dois caminhos: a democracia ou a barbárie.

Na mais decisiva corrida eleitoral desde a volta do regime democrático, além do enfrentamento do fascismo e da ameaça golpista, temos a oportunidade única de reparar uma dívida histórica com as mulheres negras, que, em razão do racismo estrutural, têm sido reiteradamente apartadas dos espaços de poder e decisão. Embora representem 27,8% da população, apenas 2,36% das negras ocupam cadeiras no Parlamento brasileiro, evidenciando que para esse grupo, a política ainda é um espaço de interdição. 

Pensando nisso, diversas iniciativas têm sido empreendidas para fomentar e apoiar uma maior participação das afro-brasileiras na condução do País. Um exemplo é a campanha “Eu voto em Negra”, coordenada pela Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. A ação visa a divulgar candidaturas com esse perfil étnico-racial. 

Como parte da ideologia racista, a ausência de mulheres negras em postos de visibilidade e liderança é naturalizada. Secularmente, Câmaras, Senado e Palácios são ocupados por homens brancos, pertencentes às classes mais abastadas, sem que a ausência do sexo feminino de cor negra seja questionada ou cause indignação. Acostumou-se a ver mulheres desse estrato social nessas instituições apenas cuidando da limpeza e servindo cafezinhos, como se isso fosse fruto do acaso, e não parte de uma estrutura perversa que as empurra para esses lugares. 

Por outro lado, não faltam exemplos de famílias brancas herdeiras e saudosas do nosso passado escravocrata que, por meio do dinheiro e do poder, fazem da vida política uma versão contemporânea das capitanias hereditárias. Sem qualquer compromisso com a diminuição das desigualdades que marcam o País, o que muitas vezes também não é percebido, questionado pela maior parte da população. 

Nesse processo talhado pelo racismo, pela manutenção de privilégios e por silêncios, 2022 apresenta-se como um ano em que mudanças significativas podem ter início, uma vez que nestas eleições contamos com um recorde de candidaturas negras. Não há dúvidas de que os saberes, as percepções de vida e de mundo de mulheres negras comprometidas com a democracia, com a educação, com a justiça social e com o enfrentamento do racismo podem ressignificar a história do Brasil, contribuindo para a construção de uma sociedade que tenha o exercício da cidadania plena como um dos principais pilares. 

A oportunidade de eleger mulheres negras alinhadas com as questões que mencionei acima não pode ser perdida. Já disse a ativista afro-americana Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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