Alberto Villas

villasnews@uol.com.br

Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Meninos, eu vi!

A gente não era fazendeiro, mas parecia que era, tamanho o nosso conhecimento. Hoje, criança nenhuma sabe como é um pé de abacaxi

Meninos, eu vi!
Meninos, eu vi!
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

A minha geração, que morou em casa, que brincou na rua, é craque em botânica. A gente sabe distinguir, sem o menor problema, uma pitangueira de uma jabuticabeira, de olhos fechados.

A gente sabe que a bananeira dá apenas uma vez, um cacho só. Aí é preciso cortar o pé para que nasça outro e venha outro cacho.

A gente conheceu o bicho de goiaba. Era rara a goiaba vermelha que não tivesse um, dois, três bichinhos dentro. A gente dava um peteleco nele e mandava brasa na goiaba.

Sabíamos de cor a temporada de jabuticaba, de caqui, de uva, era batata, não falhava nunca. De repente, todas as jabuticabeiras começavam a florir, juntas.

Comíamos fruta no pé: manga, ameixa, jambo. A manga Ubá, que aqui em São Paulo chamam de Coquinho, a gente fazia um furinho e ia chupando.

Sabíamos também um pouco da fauna. Da galinha que sempre canta quando acaba de botar o ovo, do pombo macho que choca os dois ovos entre meio-dia e seis da tarde, a porquinha da índia quando estava grávida e o peru, que sempre grugulejava quando assobiávamos.

Passarinhos, então, nem se fala. Sabíamos direitinho aqueles que gostavam da semente de jiló, da gema do ovo, do osso da baleia.

A gente não era fazendeiro, mas parecia que era, tamanho o nosso conhecimento.

Sabíamos também as receitas. Banana amassada com aveia e mel, creme de abacate, maçã do amor, figo em calda, geleia de amora.

A gente só não sabia nada sobre as frutas que não existiam por aqui: pomelo, lichia, acerola, pitaia, kiwi, a gente nunca via.

Hoje a coisa mudou. Criança nenhuma sabe como é um pé de abacaxi, que cenoura dá debaixo da terra e que jabuticaba dá no tronco.

O filho de um amigo meu, um dia viu uma galinha numa fazenda, chamou o pai correndo: vem ver uma Knorr!

E o aluno de uma amiga minha que, quando ela perguntou de onde vinha o leite, respondeu rapidinho: da caixinha!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo