Luana Tolentino

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Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. É autora dos livros 'Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula' (Mazza Edições) e 'Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil' (Papirus 7 Mares).

Opinião

Mais um 8 de março se aproxima: os dados acerca da violência contra a mulher são assustadores

Ser mulher no Brasil é viver com medo. A violência nos persegue, atravessa os nossos corpos. Lutar é a nossa única alternativa

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“Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.

Simone de Beauvoir

Mais um 8 de março se aproxima. Na minha caixa de e-mails e no meu WhatsApp, não param de chegar informações a respeito de atos em defesa dos direitos das mulheres espalhados por todo o País. Em uma sociedade que odeia as mulheres, a luta não pode parar.

Olhando para trás, não dá para negar que avançamos. Há uma semana, completaram-se 90 anos da conquista do direito de votarmos e de sermos votadas. Se no início do século passado o acesso às salas de aula nos era vetado sob a justificativa de que cabia ao “belo sexo” somente cuidar dos filhos e do marido, hoje já somos maioria nos cursos de ensino superior.

É importante celebrar nossas conquistas, como também olhar para frente. O horizonte que por ora se apresenta é terrível, assustador. É o que mostram dados recentes acerca da violência contra as mulheres.

De acordo com pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Patrícia Galvão, 76% das mulheres já sofreram violência no local de trabalho.

Em outro estudo, o Instituto Igarapé chama a atenção para os dados que raramente aparecem nos jornais: a violência de gênero que ocorre nas cidades do interior. A partir de entrevistas com 125 defensoras de terra na Amazônia Legal, constatou-se que oito em cada dez ativistas foram vítimas de ameaças e agressões físicas, que muitas vezes partiram do próprio companheiro. Segundo a Pastoral da Terra, entre 2012 e 2020, 48 acabaram assassinadas na região.

Voltando aos grandes centros, um levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo apontou que um a cada três moradores da capital paulista presenciou ou tomou conhecimento de casos em que mulheres foram violentadas nos últimos dois anos.

O Atlas da Violência de 2021, documento importante para medir os impactos da violência contra o sexo feminino, apresentou dados estarrecedores, de tirar o fôlego. Somente em 2019, 3.737 foram vítimas de feminicídio. Desse total, 66% eram negras.

Esses números saltam aos nossos olhos num contexto de total destruição das políticas públicas que visam a assegurar os direitos das mulheres.

Durante a pandemia, período em que houve um crescimento de agressões e abusos contra a população feminina, o governo federal registrou o menor investimento em programas destinados a esse grupo social desde 2015. Permitir que as mulheres ficassem à própria sorte, sem qualquer tipo de proteção, foi uma escolha da Secretaria de Políticas Nacionais para as Mulheres, comandada pela ministra Damares Alves. Somente 2,6% da verba autorizada para o combate à violência de gênero foi utilizada em 2021.

Este é o cenário no qual estamos imersas em mais um 8 de março. Ser mulher no Brasil é viver com medo. A violência nos persegue, atravessa os nossos corpos. Lutar é a nossa única alternativa.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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