Frente Ampla

Investigação da CPMI do 8 de Janeiro pode contribuir com um Brasil plural e democrático

Nada será varrido para baixo do tapete. As inquirições e as quebras de sigilo vão apontar quem se omitiu, com que objetivo e sob ordem de quem

Registro dos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. Foto: Sergio Lima/AFP
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Enfrentar divergências faz parte do ambiente democrático e não incomoda a quem acredita nele. Mas a recidiva frequente de teses irreais, falsas, desqualificações, violência política, parceria com depoentes envolvidos com os atos golpistas, desrespeito ao parlamento e à comissão que investiga os ataques ao Estado democrático de direito suplantam qualquer limite civilizado de atuação institucional representativa do povo brasileiro.

A sociedade tem acompanhado a CPMI do 8 de janeiro, ou CPMI do golpe, e expressa estarrecida a indignação quanto ao comportamento de bolsonaristas.

Após a intervenção federal decretada por Lula na Secretaria de Segurança Pública, foi produzido um extenso relatório sobre os fatos. Há em curso investigações no STF, Polícia Federal, uma CPI instalada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, esta última bastante oportuna já que grande parte das responsabilidades pela proteção às sedes dos 3 poderes era da Polícia Militar do DF e da Secretaria de Segurança Pública do GDF.

Ainda assim, a base bolsonarista apostou em uma nova frente de investigação no Congresso Nacional, imaginando que teria maioria. O objetivo era ter um contraponto às investigações para que prevalecesse o argumento de que tudo aconteceu daquela forma lamentável por única responsabilidade da omissão do governo empossado há 6 dias.

A base governista e democrática deu os votos necessários para a criação da CPMI e, instalada, torna visível a futilidade dessa tese. Ainda em 2018, após a polarização posta durante o período eleitoral, a ABIn elaborou relatório e indicou as fragilidades do Palácio do Planalto no caso de uma invasão por manifestantes. Mais do que isso, sugeriu um protocolo para ultrapassar tais fragilidades. Em 4 anos de governo Bolsonaro, apenas uma medida foi implementada – o reforço à porta da sala do presidente. Foram 4 anos de omissão. A primeira de uma cadeia que se seguiria.

Desde 7 de setembro de 2021 vemos tentativas de golpe com mobilização de bases bolsonaristas na rua. Depois, Bolsonaro lidera o ataque sem provas às urnas eletrônicas, inclusive internacionalmente, com uso da máquina pública, o que lhe custou a inelegibilidade.

Derrotado nas urnas, teve início uma nova operação golpista para tentar, a todo custo, impedir que o candidato eleito pela maioria dos votos chegasse ao Poder e assumisse o comando do país. Em grupos de whatsapp, mensagens corriam soltas incentivando acampamentos em áreas militares e divulgando uma fraude eleitoral inexistente. Uma rede de financiamento se formou para mantê-los e ampliá-los. Atos terroristas em 12 e 24 de dezembro, com tentativa de invasão da sede da Polícia Federal e uma bomba em tanque de abastecimento na área do aeroporto de Brasília, eram a senha para que o governo derrotado decretasse a GLO. Mas, como encontrado em mensagens trocadas pelo Coronel Mauro Cid, não houve sustentação política do Alto comando do Exército.

Optou-se, então, pelo plano B. Fariam de tudo para que o próprio governo Lula decretasse a GLO. Neste contexto se deu o 8 de janeiro. Isso é fato. Mas, o fio que a CPMI está desenrolando vai além. A investigação em curso vai chegar aos financiadores e aos arquitetos de tal plano golpista. E isto a oposição quer evitar a todo custo. Não quer que a sociedade saiba de pedras preciosas para Bolsonaro e Michele surrupiadas na estrutura do Palácio do Planalto. Não quer que venha a público o tanto de dinheiro que circulou para colocar em pé o golpe. E, principalmente, querem jogar para a vítima dos ataques a responsabilidade pelos atos criminosos.

Sabem que deram um tiro no pé.

Nada será varrido para baixo do tapete. As inquirições e as quebras de sigilo vão apontar quem se omitiu para permitir a depredação de prédios públicos, com que objetivo e sob ordem de quem. Saberemos os responsáveis pelos atos terroristas contra o Estado Democrático de Direito. Apelam para baixaria e a mentira. Aliás é o terreno por onde sabem bem caminhar.

Não desta vez. Com seriedade nas investigações, chegaremos ao resultado necessário ao Brasil plural e democrático. #semanistia

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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