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A verdade vem sempre à luz

As mentiras chegaram ao STF na semana passada. Coube aos ministros chamar os advogados dos réus, e até alguns de seus pares, de volta à realidade

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, em julgamento sobre o 8 de Janeiro. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
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Semana passada, no Supremo Tribunal Federal, tivemos um exemplo histórico da defesa da democracia. Efeitos práticos que punem as campanhas de fake news e desinformação. Ao vivo, pela TV e pela internet, vimos advogados de réus dos atos golpistas do 8 de Janeiro atacarem a Suprema Corte e a própria realidade. Diante dos ministros, fatos concretos viraram “narrativas contra os patriotas” e mentiras, peças de defesa que, obviamente, não tinham nenhuma sustentação. Um deles, bolsonarista de quatro costados, chegou a dizer que os juízes do STF são “as pessoas mais odiadas deste país”. 

Curiosamente, o comportamento dos advogados dos réus Matheus Lima de Carvalho Lázaro, Aécio Lúcio Costa e Thiago de Assis Mathar é muito semelhante ao dos parlamentares bolsonaristas na CPMI. Semanalmente, eles adicionam altas doses de nonsense e perversão a seus argumentos. Tentam distorcer o que realmente aconteceu no Brasil entre outubro de 2022 e o dia 8 de janeiro. Quando provas e mais provas soterram, uma a uma, as suas mentiras, torcem e retorcem mais um pouco.

Uma de suas teses estapafúrdias mais repetidas é a de que o próprio governo teria arquitetado um golpe contra si, com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, à frente, para criminalizar os “patriotas” que contestavam os resultados das eleições mesmo após a posse de Lula, e exigiam uma intervenção militar na frente de quartéis. Um falso alvo para mascarar a tentativa de golpe e abolição violenta do Estado democrático de Direito. Aos réus condenados também foi agregado o crime de organização criminosa. O pior é que esses bolsonaristas que estão no parlamento repetem irresponsável e criminosamente suas versões em entrevistas e em suas redes sociais, e são reproduzidas em jornais e canais extremistas.

As mentiras chegaram ao STF na semana passada. Coube aos ministros chamar os advogados dos réus, e até alguns de seus pares, de volta à realidade. “É um absurdo (…) querer falar que a culpa do 8 de janeiro é do ministro da Justiça. É um absurdo, quando cinco comandantes [da PM do DF] estão presos, quando o ex-ministro da Justiça que sucedeu vossa excelência [Anderson Torres] fugiu para os EUA, jogou o celular dele no lixo e foi preso”, lembrou o Ministro Alexandre de Moraes, dirigindo-se ao Ministro André Mendonça.

Um outro alerta, ainda mais importante, foi feito pela ministra Cármen Lúcia aos advogados. “A TV Justiça divulga ao vivo, em tempo real, os nossos julgamentos, e não é possível que se questione simplesmente, singelamente, sem ter um embasamento fático. Isto também é uma desinformação que contraria instituições”, disse a ministra aos colegas do direito, que choram, chamam terroristas de “patriotas” e confundem Maquiavel com Saint-Exupéry. 

Em sua fala, Cármen Lúcia alerta para o efeito perverso destas argumentações aparentemente tresloucadas. O alcance de um julgamento destes na mídia foi usado pelos “advogados de defesa” como a tentativa de protagonizar o momento e amplificar mentiras sobre o 8 de Janeiro. De tentar dar veracidade aos frágeis argumentos à parcela da população fanatizada pelo bolsonarismo, a ideia de que ali eram “cidadãos de bem” em busca de um “ideal”, e não golpistas que cometeram um crime multitudinário ao invadir e vandalizar Planalto, Congresso e STF para forçar uma intervenção militar. 

A mando de quem? Com que dinheiro? Estas são as perguntas que estamos respondendo na CPMI. A cada semana, com o avanço nas nossas investigações, somadas as da Polícia Federal, do Ministério Público, Tribunal de Contas da União e STF, estamos chegando mais e mais perto. Mauro Cid já está fazendo a sua delação premiada. E o desespero toma conta dos defensores de Bolsonaro e de seus seguidores golpistas, que tentam desviar o foco para atacar a relatora e o relatório que virá, somando misoginia e indignidade. Um deles chegou a negar que tenha havido golpe militar em 1964 apenas para contestar minha intervenção. Teria até pena de tamanha ignorância se não soubesse que isso é parte do seu pensamento.

Eles sabem que mentiras viralizam mais rapidamente que os fatos, especialmente se acompanhadas de discurso de ódio. Por isso, batalham contra a verdade diariamente, incentivam a divisão da sociedade, estimulam ressentimentos, querem recontar a História, simulam um Brasil paralelo. “Sem fatos, não há como ter a verdade. Sem a verdade, não há como ter confiança. Sem fatos, sem verdade e sem confiança, não temos nenhuma realidade em comum, e a democracia, na forma como a conhecemos, deixa de existir – assim como todos os empreendimentos humanos mais significativos”, avisa a jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Nobel da Paz, em seu livro “Como enfrentar um ditador”. E complementa: “Devemos agir rápido, antes que isso aconteça”.

É o que estamos fazendo na CPMI. Foi o que a Suprema Corte fez na última semana ao aplicar penas duras e exemplares aos golpistas Matheus, Aécio e Thiago, os três primeiros condenados pelo 8 de janeiro. Não se pode brincar com a democracia. E nem com a realidade. Retirar os fatos de seus contextos, como fazem os bolsonaristas, na CPMI, no STF ou nas redes sociais, é muito grave. Sem informação de qualidade e senso crítico, somos presas fáceis de gente mal-intencionada.

Não se enganem: os holofotes já estão apontados para vocês.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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