Opinião

Felizmente, os dias de Bolsonaro na presidência estão contados

A prisão deve aguardar toda a família

Foto: Sergio Lima / AFP
Apoie Siga-nos no

“O que triunfou sobre o Oriente, em última instância, não foram os gregos, mas a civilização helênica.”
Johann Gustav Droysen, em “Alexandre, o Grande”.

Antes mesmo de Antonio Gramsci teorizar sobre a importância da cultura para a política, esse importante biógrafo de Alexandre, ainda no século XIX, percebera que a cultura grega fora o motor das conquistas territoriais do rei da Macedônia, que se estenderam até a Índia: a abertura para o saber, a capacidade de relacionar fatos – inclusive por meio da filosofia – e a capacidade de entender a história e a geografia foram decisivos para a conquista de todo o Oriente Médio e boa parte da Ásia.

O autor recorda que o pai de Alexandre, o rei Felipe, escolhera para preceptor do filho o próprio Aristóteles, a cuja capacidade de raciocínio o filho claramente devia suas conquistas militares e políticas, sempre aberto ao diálogo e respeitoso das tradições e costumes dos povos conquistados, jamais derrotados.

Que contraste quando vemos a resposta do atual governante ilegítimo do Brasil sobre a necessidade urgente de geração de empregos para os jovens!

O desgovernante respondeu que deveriam correr atrás, pois não é empregador, mas da iniciativa privada que o é.

Dessa forma, o inominável demonstra que sequer distingue a macro da micro-economia, algo como alguém confundir história e geografia, nos séculos passados.

Felizmente, os dias desse raciocínio de ameba ladra estão contados. A prisão deve aguardar toda a família.

Por outro lado, boas notícias vêm de todas as partes do Brasil.

No Ceará, com a escolha de Elmano de Freitas como candidato do Partido dos Trabalhadores ao governo do estado. O deputado tem grande experiência no trabalho com movimentos sociais, aliando conhecimentos práticos e teóricos, como convém aos que buscam as mudanças políticas.

No outro extremo geográfico, no Rio Grande do Sul, feridas são curadas, mediante enorme coragem e sentido de responsabilidade do PT e do PSOL, que se recompactam e retomam a capacidade de desalojar do Piratini a direita retrógrada, tanto a ogra (Onix) quanto a de sapatênis (Leite).

Em verdadeira reviravolta, o vereador Pedro Ruas, do PSOL (ex PDT), foi aclamado como candidato a vice-governador na chapa liderada por Edegar Pretto, do PT, ex-presidente da Assembleia Legislativa estadual.

A candidatura ao Senado não foi menos surpreendente: Olívio Dutra, ex-governador pelo PT e unanimidade no estado, deverá ter como primeiro suplente Roberto Robaina, vereador pelo PSOL.

No continente, as notícias não são menos alvissareiras: Francia Márquez, a vice-presidenta eleita da Colômbia, esteve no Brasil e se encontrou com lideranças políticas e da sociedade civil, demonstrando que relações internacionais devem ser primordiais e feitas com humildade, inclusive para que com elas se possa trocar e aprender. Para isso, precisam extravasar a esfera governamental, fruindo dos conhecimentos acumulados pela sociedade civil.

Vale recordar que um quarto dos países do mundo alocam aos vice-chefes de estado ou governo a coordenação das relações internacionais.

Sempre à frente de seu tempo, Lula anunciou que Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente, se eleita a chapa, irá desempenhar a tarefa de viajar e buscar oportunidades para o País.

Cabe notar que a Constituição federal, no artigo 79, que dispõe sobre as atribuições do vice-presidente da República, não lhe estabelece nenhuma outra tarefa, a não ser suceder o presidente, em caso de vacância, ou substitui-lo, havendo impedimento.

Entretanto, as relações exteriores, principalmente em países em áreas tão sensíveis geopoliticamente falando, deveriam ser alçadas aos níveis mais altos da institucionalidade, haja vista que os fatores que mais atrasaram e impediriam o desenvolvimento brasileiro estão claramente ligados aos golpes de estado, como os de 54, 64 e 2016, para citar os mais recentes.

Para exemplificar o atraso que a ingerência externa negativa pode trazer ao país, Francesco Perrota-Bosch em “Lina – uma biografia” menciona: “Durante o período mais cruel da ditadura brasileira, Lina foi conduzida até o quartel-general do Exército para prestar declarações. Foi investigada em um inquérito junto a membros dos grupos armados Aliança Libertadora Nacional (ALN) e Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Refugiou-se por mais de sete meses na Itália. Seu status era de foragida. Teve um mandado de prisão expedido contra ela. Lina carregou o processo nas costas por anos.”

Antes disso, Francesco relata: “10 de março de 1965. ‘L’arte dei poveri fa paura ai generali.’ A embaixada brasileira cancelou a mostra Nordeste do Brasil na Galleria d’Arte Moderna na capital italiana às vésperas da inauguração. Essa história veio a público em um artigo de Bruno Zevi no semanal romano ‘L’Espresso. A abertura estava marcada para a manhã de 10 de março de 1965, uma quarta-feira. Organizada por Lina Bo Bardi, a exposição era basicamente a mesma inaugurada um ano e meio antes no Museu de Arte Popular no Solar do Unhão.”

Não sabiam os ditadores e seus aprendizes de torturadores que Lina já lutara contra o fascismo, o original, não a cópia horrenda?

Naquela luta, com a esperança que sempre a caracterizou, Lina escrevera um verdadeiro manifesto: “Antes de tudo, devemos conscientizar a opinião pública sobre o estado material no qual a Itália se encontra e o que estamos estudando e preparando para sair desse estado. Devemos solicitar da opinião pública consensos críticos e encorajamentos. Devemos chegar a todos os lugares, em todas as casas, as oficinas, os campos, os escritórios, tocar o coração e a mente de cada um, forçando-os a ver, esclarecer o problema da reconstrução. Em outras palavras, devemos ter o mais poderoso aliado na opinião pública educada e orientada, certamente não nesse estado miserável em que a encontramos hoje, entristecida, afastada, desiludida, desorientada no mar de numerosas ideias políticas que lhe são propostas.”

Com Lina no coração, vamos às eleições!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo