Entrevistas

‘Estou disponível, com coragem e muito otimismo’, diz Olívio Dutra sobre candidatura ao Senado

A CartaCapital, o Galo Missioneiro, como é chamado, afirma que a vitória de Lula é a grande mudança que o País almeja

Olívio Dutra. Foto: Reprodução
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Aos 81 anos, Olívio Dutra, o “Galo Missioneiro”, está de volta à rinha política. Na última segunda-feira 25, a Federação Brasil da Esperança, formada pelo PT, PCdoB e PV, anunciou seu nome como pré-candidato ao Senado e agora aguarda a convenção do próximo dia 31 para sacramentar a escolha.

A notícia mexeu com o tabuleiro eleitoral no estado. “Sempre tive uma militância ativa no campo da esquerda democrática popular e agora fui novamente convocado”, diz em entrevista a CartaCapital. “Para mim, é mais um desafio, principalmente em face da situação que vive hoje o País”.

Na conversa, o ex-governador reconhece que a dificuldade do que chamou de “campo democrático da esquerda gaúcha” em se articular e ter um programa mínimo para disputar as eleições no estado pesou para sua decisão.

Na sexta-feira 29, foi anunciado que a chapa terá – além de Olívio para o Senado e Edegar Pretto (PT) para governador -, Pedro Ruas (PSOL) como vice. O projeto, no entanto, era unir, além dos parceiros atuais, o PDT e o PSB. Os pessebistas tendem a não fazer parte da aliança, revelou o presidente da legenda no Rio Grande do Sul, Mario Bruck. 

A única exigência de Olívio para aceitar o desafio foi que a candidatura ao Senado fosse coletiva, a exemplo do que aconteceu nas eleições municipais de 2020.  A justificativa para sugerir o modelo ainda inédito no Congresso Nacional nasceu da experiência como prefeito de Porto Alegre e governador do estado, onde implantou o orçamento participativo.

“É fundamental que a sociedade seja ouvida e possa decidir naquilo que é fundamental na sua vida e de sua família”, afirma. “No Brasil, as leis são feitas de cima para baixo e o povo se transforma em mero objeto político. O que nós queremos é que ele seja o sujeito, o protagonista da história”.

Outro motivo apontado pelo pré-candidato é que nestas eleições existe uma Federação de partidos. “A candidatura não pode ser só do PT, mas dos partidos aliados ou mesmo de representantes dos movimentos sociais. Não somos donos da verdade, precisamos aprender e exercitar uns com os outros”, ressalta.

Olívio faz questão de dizer que ainda não existe um modus operandi definido, afinal “não se faz política com uma receita na mão”.  A legislação exige uma candidatura e dois suplentes, que neste caso farão parte do projeto. “Precisamos oxigenar o Congresso com ideias pluralistas. Os suplentes deverão participar do gabinete em Brasília e atuar no dia a dia da Casa, inclusive com possíveis alternâncias no exercício do cargo de senador”, explicou.

Petista histórico, fundador do partido e amigo do ex-presidente Lula, com quem dividiu o apartamento funcional em Brasília quando ambos foram deputados Constituintes, Olívio é graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Começou sua vida política no Sindicato dos bancários em Porto Alegre. Depois, entre 1980 e 1986, presidiu o PT estadual. Apesar de ser quase unanimidade entre os militantes de esquerda, inclusive dos adversários de outros partidos, Olívio não foge dos debates. Ao contrário da maioria da cúpula nacional, diz que o partido deveria fazer uma autocrítica de sua atuação nos últimos anos.

“Setores do PT têm certa dificuldade em aceitar discutir, refletir sobre determinados temas. Acham que isso é uma exigência da direita”, reflete. “A autocrítica não é um ninho de cobras que se agridem, mas um processo sereno e qualificado, onde se possa debater, discutir projetos e reformas”.

O pré-candidato diz ainda que o PT, uma vez no governo, se afastou das bases. “Não fomos capazes de debater, de mostrar que a maioria dos benefícios concedidos nos governos Lula e Dilma era programa de governo e não um projeto de estado. Perdemos o contato com o povo. Acho que precisamos ler menos o Marx e mais o Paulo Freire” afirma. 

No campo político-partidário, não integra nenhuma das correntes internas, pois, em sua visão, “deixaram o debate ideológico e passaram a disputar espaços políticos que visam a eleição de parlamentares”. 

Para ele, a expectativa da vitória de Lula  é a grande mudança que o País almeja. “Lula terá que reconstruir um País devastado pela incompetência”, declara. “O Brasil perdeu em todos os setores. As políticas públicas do novo governo terão de ser para muitos e não em benefício de poucos”. 

Otimista, embora preocupado com a violência e os riscos de um golpe, o velho comandante se diz disposto a mais uma vez lutar em defesa do Estado Democrático de Direito. “Eu não podia ir contra o meu próprio discurso. Temos muito que fazer pelo País. Estou disponível, com coragem e muito otimismo”. O “Galo Missioneiro”, com as esporas afiadas, está pronto para o combate.

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