Opinião

Direto ao ponto e mais

A proeminência da agropecuária, principalmente de exportação, perdura há mais de 20 anos, com ampla repercussão nos poderes incumbentes e na repetição midiática

(São Desidério - BA, 11/09/2020) A força do agronegócio presente na região baiana..Foto: Isac Nóbrega/PR
Apoie Siga-nos no

Direto ao ponto: na semana passada, deveria ter sido publicada no site, em “Opinião”, minha coluna. Não o foi. Tinha por título Quando a Roça Esganiçou. Contestava a chamada de capa da versão impressa A Roça Venceu e a matéria da jornalista Fabíola Mendonça. Aludiam à vitória, no plano cultural, do “agronejo”, descaracterização da música de raiz e regional brasileira.

Negada a réplica, embora fora coonestada por Mino Carta, em editorial na mesma edição da revista, quando sua Olivetti expeliu: “Meu guia Brasil adentro é Dorival Caymmi, poderoso barítono baiano, antídoto aos sertanejos esganiçados”.

No próximo 6 de setembro, Mino Carta completará 90 anos; no dia 16 de agosto estarei com 78. Ora, pela genialidade, o contundente jornalista estará 12 anos mais jovem do que eu. Talvez, não precise de tanto esforço quanto eu para expor as excrecências culturais brasileiras.

Tão indignado fiquei que, diferente de meu hábito, reproduzi o mesmo texto no GGN, de Luís Nassif.

Quem leu alguma coisa do marxismo pode entender como funcionam nos planos político, econômico e social, os conceitos de infra e superestrutura, e a importância de a primeira precisar da segunda para que o sistema se sustente e massifique.

Claro que irei resumir: a “infra” é o modo de produzir e remunerar a mais-valia; a “super” é a estratégia dos grupos dominantes para consolidar e perpetuar seu domínio. A estrutura jurídico-política e ideológica (Estado, Religião, Artes, Cultura, Mídia), ainda mais em tempos de internet.

Entenderam a capa A Roça Venceu de CartaCapital?

Os leitores poderiam pensar se não são muitas elocubrações sociológicas para um simples jabá musical da revista, a favorecer os artistas que há pelo menos três décadas insistem numa forma tóxica de se sobressair no mainstream musical e erodir as raízes culturais das variadas regionalidades do Brasil?

Não! Minha principal escolha de leitura da mídia impressa nacional não entraria numa dessas. Leitura preferencial desde a fundação e da conversão em semanal, como assinante, o convite para escrever na digital, os colegas que lá participam, não permitiriam papelão assim.

Hipóteses: uma terça-feira de reunião de pauta desfalcada e apressada; deslumbre com pesquisa sobre o estilo de música mais ouvido no país; ignorância do histórico econômico e cultural do país; descobertas tipo “ovo de Colombo”, “a roda”; Redação imberbe ou ainda não mocinha; Spotify como o Ibope já o fez na TV e o Datafolha na política.

Para começar a proeminência da agropecuária, principalmente de exportação, no Brasil, já perdura há mais de 20 anos, com ampla repercussão nos poderes incumbentes do País e na repetição midiática.

Mais: antes disso, por acaso, não existiam artistas, compositores, musicistas, cantores, que replicassem as canções de caboclos, caipiras, campesinos, camponeses, cordelistas, sertanejos, tabaréus, que nos levassem às almas de suas vidas em choupanas, casinhas de sapé, pastagem, beira-rio, árvores frondosas, ou pé-na-estrada até o lugarejo mais influente daquele campo geral, onde amores e paixões floresceriam?

Artistas que assim trilharam a cultura, vocês e CartaCapital, sabem muito bem seus nomes. Se não, é só designar jornalista mais curiosa e adequada para a tarefa. Prefiro deixar como lição de casa. A quem designarem, orientem: se for para analisarem área plantada, produção, produtividade, resultados na balança comercial, escolham quem quiserem. O indigitado consultado pesquisará nos sites indicatórios e matará a charada.

Agora, se for para escrever sobre a inserção da agropecuária no campo cultural, vá lá, mesmo Mino Carta poderá opinar.

Inté! Ou não. E para não dizerem que sou um velho saudosista.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo