Opinião

Old Truths: inflação dos alimentos castiga a classe pobre  

Há diferenças expressivas de preços entre quitandas, feiras-livres ou diretas de agricultores, supermercados em regiões mais pobres ou mais sofisticadas

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
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Segundo o mais recente levantamento da safra de grãos 2023/24, pela Conab, o Brasil deverá colher 294 milhões de toneladas, redução de 8% sobre a safra anterior. No caso, adversidades climáticas. Acontece.  

Desde que o Brasil desacreditou no mito do Saci-Pererê, digno representante da genialidade da raça, para acreditar no mito Regente Insano Primeiro (RIP), fake news foram instituídas no País e, ainda hoje, são intensamente discutidas e reprovadas, a ponto de um bilionário sul-africano, dono de empresa de transmissão de “fatos e notícias” via digital, usá-las como um dos principais emissores de uma fábrica de mentiras, capaz mesmo de criar mundos político, econômico e social irreais. 

O perigo torna-se ainda maior quando se trata de disputa empresarial que pode resultar em transformações importantes da ordem econômica mundial. 

Do capitalismo industrial à atual selvagem financeirização, sabemos, resultaram capital privado mais concentrado, menores direitos e benefícios de trabalhadores, já ameaçados pelas inovações tecnológicas, e agravados por Estados de poderes incumbentes enfraquecidos.   

Pois, tremam. Pode piorar e muito. Agorinha mesmo, assistimos ao confronto entre o ministro brasileiro Alexandre de Moraes (STF) e o bucaneiro sul-africano Elon Musk. Para melhor compreensão sugiro lerem matéria do jornalista Luís Nassif, do GGN.

Quando em minhas colunas, seja aqui ou no GGN, tenho insistido em criticar a forma como mal se expressa a mídia, principalmente a corporativa, sobre as origens e fatores que formam os preços na cadeia alimentar. Poucos a percorrem analisando vocações regionais, efeitos climáticos, sazonalidade, fatores de distribuição, transportes, combustíveis e a comercialização.  

Sobre a última, para escrever o mínimo, há diferenças expressivas de preços entre quitandas, feiras-livres ou diretas de agricultores, supermercados em regiões mais pobres ou mais sofisticadas, muitas vezes determinados pelo poder de compra em ambas as pontas. 

Repórteres vão a qualquer desses estabelecimentos e perguntam a consumidores se tais produtos (obviamente, antes elencados) subiram muito de preço. Pá-pum – ‘teje preso o vilão’! Viraliza-se o lavrador que não entende e reclama neste ano ter vendido a caixa de suas laranjas 26% mais barata. Fui eu que ferrei a comida dos pobres? Tá, me entrego! 

Mais uma vez (todos os meses), as folhas e telas cotidianas me alertam: “Inflação dos alimentos castiga classe pobre”. Ah, vá! Escolham onde enfiar a matéria. 

Lembro do trambiqueiro norte-americano Steve Bannon, que ensinou a Jair Bolsonaro o truque das fake news e seu novo professor (um dia ele aprende) Elon Musk e reajo com Old Truths (Velhas Verdades).       

No Brasil, quem não as castiga? Tresloucados motoristas 0,1%, dirigindo Porsche ou outros carros de luxo, zelosos em defender seu patrimônio através de broncas autoritárias sobre flanelinhas, os limpa-pós-de-rua que ali estão para não deixarem macular seus carrões com a poeira imunda e fétida das avenidas da Zona Leste de São Paulo. Lá, dirigem em velocidade estonteante até vilas Carrões, onde moram motoristas alternativos que carregam usuários vizinhos a preços mais baratos. Velocistas os matam.  

Quando cometem esses crimes, o que podem estar pensando? Sou foda, ninguém dirige bem como eu, acho que bebi demais, se der merda meus pais são ricos e compram quem me encarar; se eu me machucar, com a minha habilidade serão apenas uns arranhões, mamãe me leva para um hospital de excelência.    

Vivemos em um país considerado um dos principais fornecedores de alimentos do mundo, com potencial, até excessivo, diante do planeta predominante do capital (K) financista, para alimentar o mundo, inclusive o subdesenvolvido, explorado pela má distribuição. 

É o que pensam os líderes de religiões, seitas e bangalôs de ricos, coonestados pelo que o Papa, no casego da Igreja Católica, propõe: “Pensiamo al bene e al nutrimento di tutti i nostri fratelli”. 

Claro que todos jurariam, mão direita sobre a Bíblia seguirem Bergoglio. Quem bobo de negar? Um cara da ultradireita que se espalha pelo planeta diria: “Por que não trabalham mais e conquistam mérito?”  

E olham pra nós, invejando e prontos a perguntarem ao Papa: Perché il Brasile deve soddisfare la fame nel mondo, mantenere la foresta amazzonica, non inquinare l’ambienti, i calciatori rispettano le donne? Solo noi? 

Não é mesmo Mané-Macron da Casas Manon? Esta é bem geriátrica, amigo Márcio Alemão. Vou deixar em aberto para ver se algum jurássico paulistano mata no peito e deixa rolar a resposta. Abro mão de que acertem em que rua ficava a loja. O site de CartaCapital quer ouvi-los.

Hoje em dia, por exemplo, temos um presidente da República totalmente ligado em priorizar “al bene e al nutrimento di tutti i nostri fratelli”. Está sendo mal avaliado. O que confirma o que há anos escrevo: com ou sem Jair Messias Bolsonaro, o basileiro, desde a Colônia, já nasce bolsonarista. 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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