Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

As promessas

De não tomar Coca-Cola a caminhar todos os dias e não falar o nome de um futuro ex-presidente. Valendo!

Festa de reveillon em Copacabana, no RJ. Foto: Agência Brasil.
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Todo fim de ano, mais precisamente nos últimos dez dias do ano que está terminando, ele faz listas. Listas para o feliz ano novo, adeus ano velho.

A primeira promessa da lista é não tomar Coca-Cola no ano que está chegando, quase já é 2023 em Sydney. Desde os tempos em que lutava contra o imperialismo americano, ele sempre garantia que passaria pelo menos um ano sem colocar uma Coca-Cola na boca. A promessa cai geralmente em junho, julho.

Caminhar. Caminhar todos os dias pelo menos cinco quilômetros. Em 1998, comprou um marcador de quilometragem e tinha certeza que com aquela engenhoca ultramoderna, se animaria e não pararia de caminhar todos os dias pelas poucas áreas verdes da cidade onde mora.

Caminhar ele caminha, mas pouco, muito menos do que deveria. E aquele aparelhinho, ele abandonou, não funcionava direito. Ia na padaria da esquina e voltava e ele estava acusando 1,8 quilômetro de caminhada.

Comer carne apenas uma vez por semana, era a terceira promessa. Passava horas, lá pelo dia 28 de dezembro, escolhendo o dia em que comeria carne. Escolhia sempre o domingo, quando mergulharia de cabeça numa picanha bem passada, sem culpa.

Em maio, junho, a promessa vai por água abaixo. Era quando não resistia ao escondidinho de carne seca, um bife rolê, uma língua fatiada com purê.

A quarta promessa da lista era beber três litros de água por dia, recomendação da nutricionista. Para isso, comprou duas garrafas de Minalba de 1,5 litro cada uma, enchia com água do filtro todas as noites e colocava na geladeira. A primeira golada era logo cedo, quando colocava na língua um comprimido de Puran 25. No final do dia, uma garrafa continuava sempre cheia. Por isso abandonou a ideia de ficar medindo matematicamente a água que bebia.

Ler um livro por semana, isso era sagrado e não poderia deixar de estar na lista de fim de ano. Em 2022, ele parece ter cumprido a promessa, já que leu vários livrinhos pequenos do Ailton Krenak e da Annie Ernaux. Até mais ou menos março ele vai anotando na agenda eletrônica os livros lidos. Acaba enchendo o saco e não anotando mais. Este ano, anotou apenas os melhores que leu: O Lugar, de Annie Ernaux, de Carla Madeira, a biografia de Lina Bo Bardi, três sobre Caetano Veloso, que fez 80 anos, a biografia do Roberto Carlos escrita pelo Jotabê Medeiros, O Olho mais Azul, de Toni Morrison, Vista Chinesa, da Tatiana Salem, o terceiro volume de Escravidão, do Laurentino Gomes, vários verbetes da Enciclopédia Negra, isso que ele lembra. Mas aquela coisa certinha de anotar o nome do livro, o autor, a editora, o ano de lançamento, isso ele só fez com O lugar, de Annie Ernaux.

Não ver o Big Brother Brasil está na lista desde o BBB2. Isso ele não viu mesmo. Não sabe o nome de um participante sequer, nem mesmo quem ganhou.

Não sintonizar a Jovem Pan News é uma promessa nova, feita no meio do ano. Só teve uma queda no dia seguinte em que Lula ganhou as eleições. Abriu uma latinha laranja de Cacilds, colocou os pés pra cima e sintonizou nos Pingos nos Is, seis em ponto. O programa foi um fiasco, todos os comentaristas pisando em ovos, cara de bunda. Dias depois, quase todos demitidos.

Para 2023, além da promessa da Coca-Cola, de caminhar todos os dias e de comer carne apenas um dia por semana, ele prometeu que não vai pronunciar o nome do presidente da República que está deixando o cargo no último dia deste ano.

Valendo!

O cronista tira um pequeno período de descanso e volta na sexta-feira, dia 6, já no ano novo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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