Ao escrever neste espaço, tento não ser repetitiva com os temas abordados. Mas nem sempre isso é possível. Pela terceira semana consecutiva, redijo sobre a onda de violência nas escolas que assombra e amedronta o País.
Nos dias que sucederam a chacina ocorrida em uma creche de Blumenau (SC), que vitimou quatro crianças e destruiu famílias inteiras, registros de ameaças e de tentativas de assassinatos em instituições de ensino ganharam destaque no noticiário.
Uma atmosfera de pânico e insegurança toma conta do Brasil, o que levou minha mãe a dizer durante uma conversa pelo telefone: “Luana, eu ando com medo de tudo!”. Esse sentimento também é partilhado por colegas professores e de outros segmentos profissionais.
Nesse contexto, que nos faz manter a respiração em suspenso diante do receio de mais um caso vir à tona, chamam-me atenção as medidas adotadas até então por governadores, prefeitos, parlamentares e gestores de instituições privadas para tentar conter a onda crescente de violência nas escolas. Só se fala na instalação de detectores de metal e na presença de policiais e seguranças armados nos espaços de saber. Em minhas leituras diárias dos principais jornais e portais de notícias, ainda não vi uma única proposta que vise a refletir como chegamos até aqui. Ainda não encontrei uma única figura pública que dissesse: precisamos (re)pensar a escola e sua função social.
Os que têm se arvorado em implantar no ambiente escolar a “pedagogia do cárcere” são os mesmos que nos últimos anos abraçaram com ardor a institucionalização da barbárie, a política de armamento, de ódio, cujos reflexos estão presentes de maneira indelével nos recentes atentados contra a vida que temos testemunhado.
Desse modo, cabe perguntar: a quem interessa armar as escolas como se estivéssemos falando de medidas para aumentar a segurança em penitenciárias? Quem lucra, quem ganha com isso? Certamente não são os estudantes, os professores, nem mesmo a comunidade escolar.
Diante do desafio que se apresenta, não teremos êxito sem o fomento de políticas públicas que objetivem reconhecer a escola como um espaço de proteção social e de valorização das diferenças. Dificilmente iremos avançar enquanto não houver a ressignificação dos currículos escolares, que muitas vezes são completamente distantes dos anseios e vivências de crianças, jovens e adultos. Enquanto formos um país que desqualifica e criminaliza professores, a violência contra esse grupo será uma constante.
O enfrentamento ao ódio que paira no ar, e nos sufoca, passa também pela responsabilização de redes sociais que disseminam incessantemente conteúdos que alimentam atos como o que custou a vida da professora Elisabeth Tenreiro, há duas semanas, em uma escola da Zona Oeste de São Paulo. Nesse sentido, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, acerta o alvo ao fechar o cerco a redes, como o Twitter, que se recusam a tomar providências para retirar das plataformas as publicações propagadoras de intolerância, ameaças explícitas, agressões e planos de ataque.
Armar as escolas é desconsiderar as palavras do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, que, ao refletir sobre a tragédia na creche de Blumenau, pontuou: “Nós estamos construindo uma sociedade miserável. Nós estamos matando a esperança das pessoas. Nós estamos matando as crianças que aqui estão, os adolescentes e as que ainda nem vieram porque nós estamos criando um mundo em que o sonho, a esperança, não é possível”.
Além de ineficaz, como comprovam experiências nesse sentido já verificadas em instituições de ensino nos Estados Unidos, armar as escolas para conter a escalada de violência é um tiro no pé. Insistir nessa direção é um grande equívoco, que beneficia somente os que se elegeram às custas de discursos reacionários, as empresas de segurança privada e a indústria armamentista.
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