Sergio Takemoto

Presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

Opinião

Apagão em São Paulo revela fiasco da privatização da energia elétrica

A onda de venda de empresas públicas obedece à lógica rentista. O colapso no fornecimento de energia pela Enel prova essa situação de terra arrasada

Apagão em São Paulo revela fiasco da privatização da energia elétrica
Apagão em São Paulo revela fiasco da privatização da energia elétrica
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Desde o feriado de Finados, em 2 de novembro, a cidade de São Paulo vive um verdadeiro caos por conta do apagão que deixou a população sem fornecimento regular de energia, afetando serviços essenciais na capital e cidades vizinhas. A situação expõe as inconsequências e inconveniências da privatização de empresas públicas que produzem insumos universais, a exemplo da rede de energia elétrica. Passados seis dias, 20 mil residências ainda permanecem na escuridão devido ao blecaute, que atingiu mais de 2 milhões de pessoas, depois das fortes chuvas e ventanias de mais de 100 quilômetros/hora que castigaram o estado. 

O apagão em São Paulo escancarou a insuficiência da oferta de bens e serviços públicos – os chamados monopólios naturais, como é o caso de energia, saneamento e logística, além da saúde, educação e transporte urbano, resultado da agenda privatista assumida no estado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pelo prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB). A gestão de ambos acelera, sem debate ou consulta à população, projetos de entrega do patrimônio público a setores da iniciativa privada. A Enel é a responsável por gerir a energia em território paulista, sendo conhecida por ser uma empresa que coleciona problemas por onde passa.

Foi essa multinacional italiana que adquiriu a antiga estatal Eletropaulo em 2018 e, desde então, reduziu em 36% o número de funcionários, mesmo diante do aumento de clientes e no valor das tarifas. Logo, as transformações nas estratégias das empresas explicam a sanha das privatizações de bens públicos, a ponto dos atuais gestores públicos paulistas insistirem com a defesa da venda da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e de todas as linhas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Seja como for, a receita é sempre a mesma: o capital privado que controla concessões públicas costuma cortar postos de trabalho, reduzir salários e apostar na terceirização dos serviços. 

É preciso deixar claro que o apagão paulista é fruto de uma política de privatização que governos como o do estado e o da capital tentam impor ao nosso país. Os empregados da Caixa Econômica Federal, o único banco 100% público da América Latina, sabem da importância de uma empresa pública voltada aos interesses da maioria da população. O monopólio privado e a desobrigação de investimentos na estrutura da rede de energia elétrica comprometem a qualidade do serviço prestado à população. 

No caso das privatizações, a financeirização rentista se beneficia de um ativo existente e gerador de renda monopolista, criado com dinheiro público. Se a sociedade paulista não se mobilizar, empresas públicas como a Sabesp, o Metrô e a CPTM poderão ser privatizados em um piscar de olhos e isso irá comprometer o desenvolvimento de São Paulo. E, por isso, é fundamental a unidade de sindicatos, associações e sociedade civil em torno da luta em defesa das estatais. A mobilização é por direitos, democracia, soberania nacional e por cada cidadão brasileiro.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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