Opinião

‘Alerta’ do FMI sobre inteligência artificial pressiona os trabalhadores em lutas salariais

Provavelmente assistiremos a uma grande pressão pela substituição, rebaixando enormemente a qualidade dos serviços prestados

‘Alerta’ do FMI sobre inteligência artificial pressiona os trabalhadores em lutas salariais
‘Alerta’ do FMI sobre inteligência artificial pressiona os trabalhadores em lutas salariais
Mulher fotografa um robô humanoide na Consumer Electronics Show, em Las Vegas (EUA), em 10 de janeiro de 2024. Foto: Frederic J. Brown/AFP
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“O bem não faz barulho, e o barulho não faz bem” – São Francisco de Sales

Um dos temas mais importantes da atualidade é a inteligência artificial.

Segundo a imprensa internacional, essa tem sido a principal questão no Fórum Econômico de Davos, que se realiza naquela localidade suíça, nestes dias.

Na oportunidade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que até 40% dos atuais empregos poderão ser substituídos pela IA.

À parte o exagero, que visa mais a pressionar os trabalhadores em suas lutas salariais com o capital, não resta dúvida de que a humanidade terá de se preparar adequadamente para conviver, regular e tirar dela o proveito possível para melhores condições de vida.

Provavelmente, iremos assistir a uma grande pressão pela substituição, rebaixando enormemente a qualidade dos serviços prestados, excluindo as pessoas mais velhas do acesso a muitos deles – pelo desconhecimento digital -, gerando situações absurdas e até perigosas para os usuários.

Quem já teve de acionar um seguro de automóvel em situação de emergência sabe o que estou dizendo.

Tecla-se uma infinidade de vezes, para falar com alguém depois de muito tempo, durante o qual muitas coisas podem ter acontecido, algumas delas bem ruins.

Nesse sentido, será importante ter claro que nada substitui o ser humano e que cálculos como o do FMI, citados acima, são capciosos.

Por exemplo, se é verdade que na agricultura a mecanização pode trazer ganhos ingentes, também é verídico que a uniformização pouco tem a ver com a vida humana.

Outro exemplo: os famosos padrões ISO.

Certamente, para oficinas mecânicas, eles recomendam agendamento.

No entanto, incidentes não são fatos pré-agendáveis.

Tive experiência recente nesse sentido: meu carro começou a falhar.

Cheguei a Nova Trento (SC) e procurei oficina mecânica, pois no dia seguinte teria de viajar a Jundiaí (700 quilômetros).

Entretanto, as quatro oficinas que busquei estavam cheias e se recusaram a sequer olhar o problema, pedindo-me, algumas delas, o prazo de uma semana para o diagnóstico.

Mais de uma exibia o diploma de ISO “alguma coisa”…

Na quinta, “Armelini” – faço questão de dizer o nome -, fui atendido por jovem que estava em pleno conserto de outro veículo, mas que decidiu, haja vista a minha urgência, ligar o meu carro. Ao fazê-lo, pediu que eu abrisse o capô, o que confirmou sua suspeita: um cabo de vela se soltara.

Em cinco minutos, saí de lá com o carro em perfeitas condições e imensamente grato por ter sido atendido por um ser humano de verdade, uma pessoa que não se deixou condicionar por regras, regulamentos e outros fordismos estandartizantes, que, em última instância, são tudo, menos inteligentes.

O defeito teria sido percebido por qualquer mecânico que apenas tivesse aberto o capô do carro, mas nenhum deles o fez, com exceção do referido profissional da mecânica “Armelini”.

Com efeito, pensar com a própria cabeça é ato insubstituível.

Voltando a tratar da Suíça, recentemente o ministro das Relações Exteriores daquele país, Ignacio Cassis, disse o óbvio, mas que os colegas europeus dele ainda não conseguiram enxergar: que só poderá haver paz na Europa se a Rússia for envolvida nas negociações.

A propósito, vale notar que a guerra na Ucrânia tem drenado, para fins altamente improdutivos, recursos financeiros que deveriam ser direcionados ao desenvolvimento socioeconômico europeu.

Cabe notar que a Alemanha apresentou retração no PIB de 0,3, sendo ela o “motor” da União Europeia.

Dessa maneira, a Europa refaz o perigosíssimo percurso do século XX, quando a recessão econômica abriu as portas do continente para o fascismo e o nazismo.

De fato, a extrema-direita já governa a Itália, a Holanda, a Dinamarca, a Hungria e a Polônia.

Na França e na Alemanha ameaça também chegar ao poder, já estando entre as principais forças políticas dos dois países, pilares principais da UE.

Na Inglaterra, o programa dos conservadores, no poder, não se distancia do extremismo, principalmente em política externa e migrações.

Tomando a Segunda Guerra novamente como referência, já morreram mais jornalistas em Gaza do que naquele conflito mundial, 103 no total.

Médicos e enfermeiros, foram três vezes mais, 310, assassinados pela sanha sionista.

E quanta legitimidade tem a África do Sul, ao processar o regime genocida israelense na Corte Internacional de Justiça!

Um país que esteve décadas sob o apartheid sabe identificar o que é um genocídio e denunciá-lo.

O regime de extrema-direita israelense não poderá mais se esconder e nem se utilizar do Holocausto para seus fins igualmente genocidas.

A propósito, em Friedrich Engels – uma biografia (editora Boitempo), Gustav Mayer faz interessante digressão sobre o cuidado que tinham Engels e Marx com o tema da hegemonia, na Alemanha, tão determinante para as vitórias e as derrotas políticas que viriam no futuro, prevendo, já no século XIX o que seria o centro das lutas e batalhas que estavam por vir:

“Mas as massas agora apoiavam a democracia burguesa, que varria a Alemanha como uma avalanche. Elas poderiam ter uma visão melhor de qual atitude deveriam adotar em relação a ela se se voltassem para o inimigo comum, a Reação. Desde a revolta dos tecelões de 1844, a imprensa reacionária nunca deixou de dizer ao proletariado que ele recebia mais simpatia dos proprietários feudais do que de seus inimigos naturais, os empregadores liberais. Engels e Marx se opuseram a essa atitude em um manifesto conjunto, publicado na ‘Deutsch-Brüsseler Zeitung’ [Gazeta Alemã de Bruxelas] de 12 de setembro de 1847. Daí em diante, eles se referiram a esse manifesto sempre que viram algum perigo de que o governo prussiano alistasse os trabalhadores contra a burguesia liberal.”

A provável chapa Boulos-Marta, para a prefeitura de São Paulo, vai nesse sentido: contra a reação, só a união.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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