Augusto Diniz

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Jornalista há 25 anos, com passagem em diversas editorias. Foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Opinião

A ótima cantora Yvani Coelho grava 3° trabalho

“Cantar é minha missão de vida”

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A voz adorável flui no tempo certo do samba. E ela vem de Yvani Coelho, que abraçou o canto como missão de vida – para a nossa alegria. 

No seu primeiro CD, lançado em 2015, chamado “Mulher de Fibra”, Yvani gravou de samba soul a samba de roda. Parte do trabalho tem composições próprias com parceiros. A faixa título é uma música de Didi Pinheiro e Serginho Madureira – com este último a cantora mantém grande afinidade.

Ano passado, ela apresentou o EP “Dandara”, com quatro faixas. As músicas têm arranjos mais atuais. “Tinha objetivo de atingir um público mais jovem”, diz.

Agora, está gravando outro EP, com cinco faixas, com o título “Tempo de realizar”, nome de uma das músicas do novo trabalho de autoria de Rogerinho Cândido e Leandrinho Lê. O disco sairá no meio do ano. 

Uma das pessoas que Yvani mais admira no samba, o experiente cantor e compositor Yvison Pessoa, do extinto Quinteto em Branco e Preto, ressalta a grande cantora e artista: “Tem dom, graça, brilho, humildade e voz singela. É formidável.”

Outro a destacar seu trabalho é Jônatas Petróleo, responsável por alguns arranjos de músicas apresentadas no seu primeiro CD: “Tem bom repertório. É uma cantora de personalidade e de luta.”  

Foto: Alex Pires/Divulgação

Baiana-paulista

Yvani nasceu em Irecê, na Bahia, mas aos três anos veio para são Paulo onde recebeu registro em cartório. 

“Viemos para capital paulista em busca de oportunidade”, conta. A família se instalou em São Miguel Paulista, na Zona Leste, bairro onde Yvani reside até hoje.

Com 38 anos, a cantora e compositora é mãe de Maysa Gabrielle (18 anos), Pedro Henrique (16) e Jorge Luiz (4). 

Antes de ingressar em definitivo na música, Yvani foi operadora de telemarketing e cabeleireira.

Ela se apresentou pela primeira vez a convite do irmão, integrante de um grupo de samba, ainda jovem. Yvani cantou a emblemática “O Bêbado e a equilibrista”, obra-prima de Aldir Blanc e João Bosco.

“Escolhi ser cantora por que é algo que me completa. Faz sentir-me realizada. Cantar é minha missão de vida”. 

Conta ela que seu pai ouvia – e ainda ouve – Paulinho da viola, Agepê, Clara Nunes. “Faço samba de raiz a minha maneira. Tem atabaques e pontos. Me sinto à vontade com esse samba de religião que a Clara Nunes cantava”. 

Seu lado compositora foi descoberta com amigos. “Gosto de escrever. Quando era cabelereira, as clientes me contavam histórias de relacionamento, de filhos, de amizade. Eu anotava em um caderninho”.

A primeira composição “Deixe uma rosa”, gravada no primeiro disco, saiu em parceria com Olegário Júnior, que pôs melodia em uma letra sua. “Mostrei para ele o tal caderninho”, lembra aos risos. 

Uma, composta sozinha, faz referência a Iemanjá. A música chama-se “Mãe senhora das águas”, uma homenagem à sua mãe.

A letra diz: “Yemanjá, senhora das águas, seu mistério, tesouro no fundo mar. O seu canto faz pescador chorar, seu encanto, toda beleza que há. Ynaê, Janaina senhora das águas, minha mãe Yemanjá, hoje vou lhe saldar, Odoiá”. 

“A composição veio em minutos. Ficou como uma homenagem a minha mãe por que ela antes de falecer (em 2015) foi a primeira pessoa que apresentei essa música. E se emocionou muito”, comenta. 

Trabalhar com música não é fácil, reconhece, ainda mais com samba. “Embora a mulher tenha conquistado grande espaço, esse mundo é ainda masculino”, emenda. “Há muito preconceito contra nós”. 

Ela cita já ter enfrentado momentos desagradáveis, inclusive em rodas de samba. “Quanto mais dificuldade, mas vontade tenho”.

A cantora e compositora gosta do samba pela alegria, em meio à vida dura. Diz se emocionar quando o público canta junto.

“Meu coração acelera”, exprime com a bela e incisiva voz inundada de emoção – e agradabilíssima de se ouvir. 

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