Celso Pansera

Presidente da FINEP

Fernando Peregrino

Chefe de gabinete da presidência da Finep

Opinião

A hora de uma nova indústria

Apenas 63 economias do mundo são consideradas industrializadas. Mas elas abrangem apenas 20% da população do planeta. Há muito esforço a fazer

O pré-sal é mais um caso de sucesso, mas não conseguiu mudar a cara da indústria nacional – Imagem: Agência Petrobras
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A FINEP irá coordenar uma série de debates sobre a contribuição que a ciência pode oferecer a uma nova base industrial do país, chamada de neoindustrialização, ou seja, intensiva em conhecimento, sustentável e de baixa emissão de carbono. 

Os seminários são parte da preparação da V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – VCNCTI, a ser realizada em junho de 2024, convocada pelo Presidente Lula e organizada sob a direção da Ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. 

Há 14 anos não se realizava essa conferência. O momento de retomá-la é o melhor possível. Depois de um período de obscurantismo, de escassez de meios para a ciência e de ameaça ao livre debate, o País vive uma fase de inusitado apoio às atividades de pesquisa e inovação nas universidades e de financiamento a empresas tecnológicas, por meio de recursos anuais de 10 bilhões de reais, operados pela própria FINEP.  

Embora positivos, esses fatos são ainda insuficientes para um País que tem 30 milhões de pessoas com fome, mesmo sendo um dos maiores exportadores do mundo de produtos agrícolas, como soja e carne, entre outros. E, em que pese ser grande exportador de minerais estratégicos, segue importando semicondutores produzidos com esses materiais empregados largamente na indústria eletrônica. O Brasil também é superavitário em petróleo bruto, mas importador de seus derivados, gasolina e diesel. Há algo faltante!

Para a FINEP, que esse ano completa 56 anos de existência, a coordenação desses seminários representa um oportuno desafio. Afinal, ela é conhecedora da base tecnológica que ajudou a construir e assim pode mobilizá-la para impulsionar esse projeto de neoindustrialização.

Basicamente trata-se de deixarmos de ser uma economia agrário-exportadora, para produzir bens intensivos em conhecimento que nos remunere melhor e dignamente no comércio exterior, e assim consigamos financiar políticas públicas estratégicas, como educação e saúde.

De fato, a indústria é uma atividade humana estratégica, pois é ela que, por natureza, gera riqueza ao transformar matéria prima em bens necessários à sociedade, usando tecnologia, energia e trabalho. Porém, nem todos os países alcançam esse patamar. 

Apenas 63 economias do mundo são consideradas industrializadas. Mas elas abrangem apenas 20% da população do planeta, segundo a UNIDO. Portanto, há muito esforço a fazer. 

Os seminários organizados pela FINEP, com apoio do MCTI, CNI-MEI, ABIPTI, CNDI, BNDES, dentre outros, serão eventos para discussão de temas, como o da indústria biotecnológica, o impacto da inteligência artificial no sistema produtivo, a imperiosa transição energética, a bioeconomia, a descarbonização, bem como a segurança alimentar e o Estado que queremos. 

Sobretudo, esperamos contribuir para a mobilização da sociedade sobre a importância dela tomar em suas mãos as mudanças propostas pela temática.  

Os seminários mapearão obstáculos e colherão sugestões para superá-los por meio de duas perguntas endereçadas aos participantes: 1) Como está o Brasil no tema abordado? 2) Como superar os obstáculos? 

Ou seja, em última instância, o objetivo é ajudar na formação de uma consciência social para uma mudança transformadora, como requer a nossa economia e a nossa sociedade. A verdade é que o País já tem diagnóstico e propostas em abundância. Falta sermos efetivos e realizá-las com políticas públicas das quais participem os governos e a maior parte dos agentes econômicos e sociais.

Política pública se faz com participação na formulação e na implementação. Esse é o aspecto crucial que se pretende com o calendário de eventos visando promover a contribuição da ciência à neoindustrialização. Façamos a hora!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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