Mundo

‘Visão eurocêntrica’ dá mais atenção à guerra na Ucrânia que na Etiópia, diz embaixador brasileiro

Em novembro de 2021, a embaixada do Brasil emitiu um comunicado no qual não recomendava a brasileiros viagens que não fossem realmente necessárias ao país

Foto: EDUARDO SOTERAS / AFP
Apoie Siga-nos no

O país da região estratégica do Chifre da África está em guerra desde novembro de 2021. Mas o conflito etíope, que já deixou milhares de mortos e 2 milhões de deslocados, não chama a atenção da comunidade internacional como a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro. Para o embaixador brasileiro na Etiópia, Luiz Eduardo Villarinho Pedroso, essa disparidade de tratamento se explica em parte por “uma visão eurocêntrica”.

Já se passaram três anos desde que Luiz Eduardo Villarinho Pedroso começou a representar os interesses do Brasil na Etiópia, que meses atrás fechou sua embaixada em Brasília e em dezenas de outras capitais pelo mundo. Diplomata com 37 anos de experiência, ele já trabalhou em 8 países, mas ocupa pela primeira vez o posto de embaixador.

No entanto, Etiópia não é o primeiro país em guerra onde trabalha. No Líbano, onde ficou por 10 anos, foi, segundo ele, o diplomata brasileiro que mais tempo atuou no país.

Luiz Eduardo Villarinho Pedroso recebeu a RFI em Adis Abeba, capital etíope, para falar sobre o conflito que desde novembro de 2020 deixa mortos, feridos e tem feito centenas de milhares de pessoas abandonarem suas casas, fugindo de ataques de rebeldes no país governado pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, vencedor do Nobel da Paz em 2019.

O embaixador lamenta, embora diga compreender, que a guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia, atraia mais atenção internacional do que outros conflitos em andamento, como na Etiópia. “Estamos lidando, aí, com uma potência nuclear, um membro permanente do Conselho de Segurança. Não quero ser taxativo nisso, mas há sempre, também, uma visão mais eurocêntrica das coisas. Um conflito na Europa tende a despertar mais atenção da mídia e da comunidade internacional”, explicou.

Relações entre a Etiópia e o Brasil

O esforço atual do embaixador no segundo país mais populoso da África é descobrir oportunidades de parcerias e negócios para brasileiros em uma das maiores economias africanas. Uma dessas oportunidades pode estar no promissor mercado etíope de geração de energia. A propósito, o país acabou de inaugurar uma grande hidrelétrica para gerar energia a partir do rio Nilo.

Enquanto o governo etíope não encontra uma solução para o sangrento conflito em andamento, resta ao embaixador conduzir a difícil missão de convencer empresários brasileiros a investirem em um país em guerra, porém com grande potencial de crescimento. As principais oportunidades estão no setor de “energias renováveis”, indica Luiz Eduardo Villarinho Pedroso

Em novembro de 2021, a embaixada do Brasil emitiu um comunicado no qual não recomendava a brasileiros viagens que não fossem realmente necessárias ao país. Na entrevista, Villarinho Pedroso atualizou as informações sobre a segurança na Etiópia, aos viajantes interessados. A situação na capital Abis Abeba está mais tranquila, mas as viagens turísticas ainda não são aconselhadas.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo