Mundo

Vice de Milei, uma negacionista da ditadura, deve escolher ministros da Segurança e da Defesa

O presidente eleito, contudo, ainda não anunciou quem será seu ministro da Economia, em meio a uma grave crise

Victoria Villarruel e Javier Milei. Foto: Emiliano Lasalvia/AFP
Apoie Siga-nos no

O presidente eleito da Argentina, o ultradireitista Javier Milei, começou nesta segunda-feira 20 a anunciar os integrantes do primeiro escalão de seu governo, a se iniciar em 10 de dezembro.

Milei diz que seu gabinete terá apenas oito ministérios: Economia, Relações Exteriores, Infraestrutura, Segurança, Interior, Defesa, Justiça e Capital Humano (neste estariam inclusos Desenvolvimento Social, Saúde, Trabalho e Educação).

Para o Ministério do Capital Humano, a escolhida será Sandra Petovello. Já a definição sobre os chefes da Defesa e da Segurança deve ficar a cargo da vice-presidenta eleita, Victoria Villarruel, uma negacionista do horror da ditadura argentina.

Na semana passada, Villarruel criticou o memorial da antiga Esma, onde funcionou o maior centro de detenção clandestina e tortura da ditadura de 1976 a 1983. Ela também alegou que “a área dos direitos humanos tem sido um verdadeiro buraco negro para a entrega de subsídios, bens do Estado e indenizações”.

Pela Esma passaram 5 mil dos 30 mil presos desaparecidos no regime militar. Hoje, é um museu do Espaço para a Memória e a Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. Villarruel, no entanto, questiona até o número de desaparecidos na ditadura.

Nesta segunda, Milei adiantou que o advogado Mariano Cúneo Libarona será ministro da Justiça e que a ex-candidata a governadora de Buenos Aires Carolina Píparo assumirá a Administração Nacional da Segurança Social, um cargo que o peronista Sergio Massa, derrotado por Milei no domingo 19, já ocupou, no início dos anos 2000.

Outra nomeação quase certa é a de Diana Mondino como futura chanceler da Argentina. O posto é especialmente importante para o Brasil, em meio aos ataques de Milei ao presidente Lula (PT), que não deve comparecer à cerimônia de posse do ultradireitista.

Um movimento provável é a escolha de Guillermo Francos, ex-representante argentino no Banco Interamericano de Desenvolvimento, para ministro do Interior.

Outra definição aguardada com muita ansiedade pelos argentinos é a do próximo ministro da Economia, em meio a uma inflação superior a 140% nos últimos 12 meses. O presidente eleito disse que não divulgaria a escolha nesta segunda porque os opositores decidiriam “torpedear o ministro antes de ele tomar posse”.

Os anúncios ocorreram durante uma série de entrevistas a rádios locais. Na ocasião, Milei repetiu algumas de suas ideias incendiárias, entre elas as de fechar o Banco Central, dolarizar a economia e privatizar “tudo o que possa estar nas mãos do setor privado”.

Milei repetiu que o fechamento do Banco Central seria “uma obrigação moral” e destacou que, para isso, é preciso dolarizar a economia.

Ele também disse que suas primeiras viagens internacionais após a eleição serão para Estados Unidos e Israel, antes mesmo de tomar posse. As datas, no entanto, ainda não foram anunciadas.

Ao defender sua agenda de privatizações, mencionou diretamente a companhia estatal de exploração e refino de petróleo, a YPF, e empresas públicas de comunicação.

A petroquímica foi nacionalizada em 2012, durante a gestão de Cristina Kirchner. O presidente eleito afirmou que seria preciso “reconstruí-la” e recuperar seu valor.

“Na transição em que estamos pensando na questão energética, a YPF e a Enarsa [Energía Argentina Sociedad Anónima] têm um papel. Desde que essas estruturas sejam racionalizadas, elas serão colocadas para criar valor para poderem ser vendidas de uma forma muito benéfica para os argentinos”, disse Milei.

Em uma das entrevistas a rádios, ele aproveitou para criticar a Televisión Pública, acusando a emissora de ter se transformado em um “mecanismo de propaganda” durante o governo de Alberto Fernández.

“Setenta e cinco por cento do que foi dito sobre nosso lado foi de maneira negativa, com mentiras e apoiando a ‘campanha do medo’. Não vou aderir a essas práticas de ter um Ministério da Propaganda”, alegou.

“A TV Pública tem de ser privatizada. Tudo o que pode ficar nas mãos do setor privado, ficará nas mãos do setor privado. Rádio Nacional e [Agência] Télam? Sim, em mãos privadas. Com certeza.”

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo